APL 2760 A peneira da bruxa
Em algumas aldeias crê-se que toda a mulher que é bruxa não pode morrer sem arranjar alguém que lhe fique com a peneira. E a mulher que lha herdar, herdará também o fadário, pelo que irá tornar-se numa bruxa igual.
Conta-se em Mogadouro que, numa determinada aldeia, há muitos anos, uma mulher, para fazer a última vontade a urna velha moribunda, ficou-lhe com a peneira, sem saber que se tratava de uma bruxa. A seguir, cuidando que ela já estava morta, meteu-a no forno para a queimar.
Diz o povo que a peneira andou dentro do forno às voltas como um remoinho e levou tempo a arder. E diz-se também que a bruxa, que nesse momento estava a exalar o último suspiro, entrou de novo em agonia e não havia meio de morrer, pois a peneira encontrava-se agora transformada em cinza e não podia, por isso, ser herdada tal como ela a deixou. Diz-se que só conseguiu morrer muito tempo depois, quando um determinado padre veio de longe confessá-la.
E assim acabaram, de vez, as bruxas nessa aldeia, pois não foi possível retomar a sucessão uma vez que não houve quem conseguisse herdar a peneira da última que lá viveu.
- Source
- PARAFITA, Alexandre O Maravilhoso Popular - Lendas, contos, mitos Lisbon, Plátano Editora, 2000 , p.80
- Place of collection
- MOGADOURO, BRAGANÇA