APL 736 A menina e as feiticeiras
Eu ainda conheci uma senhora que em menina era levada pelas feiticeiras. E a madrinha foi quem teve de lhe quebrar o fado.
Era uma menina que foi baptizada, mas estou que não teria ficado bem baptizada, e que, ao chegar a uma certa idade, vinham umas mulheres de noite buscá-la à cama. Ela bem dizia que ia e vinha com muitas mulheres. E disse-o até ao fim.
Vinha então toda esfarrapada. Punham-na na cama sem a mãe ver, sem o pai ouvir.
Punham-na e tiravam-na, e ninguém dava por isso.
A mãe, ao vê-la assim toda esfarrapada, dizia:
— Aqui há coisa! Aqui há coisa! Levam-me a menina! Levam-me a menina!
E então ele, o pai, disse:
— Deixa estar que eu hoje hei-de ver quem leva a menina. Comigo aqui, as bestas não hão-de cá vir! (Não foi bem bestas que disse, mas pronto...)
Então pôs-se com a menina agarradinha a ele. Como elas vêm a uma certa hora entre as onze e meia e a meia-noite e meia que fazem essas coisas...), pensava ele que as havia de apanhar.
Mas não. Quando menos enquanto, já elas estavam no telhado da casa dele com a menina, e às gargalhadas, a baterem palmas. E diziam:
— Olha, ela cá vai!
Ele olha para si, e já não tinha a menina. Elas vieram tirá-la ao colo do pai.
Resolveram então quebrar-lhe o fado. E só a madrinha lho podia quebrar, com a ajuda do senhor abade e com a estola. Foram à igreja e renovaram o baptismo. Foi porque, no primeiro baptismo lhe faltaram palavras. E as feiticeiras tiveram poder nela.
- Source
- PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro - Narrações Orais (contos, lendas, mitos) Vol. 1 Peso da Régua, Fundação Museu do Douro, 2007 , p.140
- Place of collection
- Barcos, TABUAÇO, VISEU
- Collector
- Alexandre Parafita (M)
- Informant
- Maria Isabel Araújo (F), 76 y.o., Barcos (TABUAÇO),