APL 989 A avó bruxa
Um casal, sempre que lhe nascia um filho, na véspera do baptizado, depois de estar a despesa da cerimónia toda feita, via a criança morrer sem saber de que doença. O homem jurou que, quando nascesse o próximo filho, havia de descobrir quem o queria matar.
Nasceu um novo filho. Na véspera do baptizado, a mãe ficou a vigiar o berço até à meia-noite e o pai daí em diante.
Quando chegou a vez do marido, ele sentou-se ao pé do berço e ficou de vigília, à espera que alguma coisa acontecesse. A certa altura, apareceu uma almotolia: tomba aqui, tomba ali, à volta do berço. O homem chamou a mulher:
− Anda cá depressa! Anda aqui uma almotolia à volta do berço do menino. Será ela que mata os nossos filhos?
− Ó homem, manda-a já pela janela fora antes que haja outra desgraça!
O homem apressou-se a lançar a almotolia pela janela fora com toda a força. Ouviu a voz da mãe a queixar-se:
− Ai, filho, que me partiste um braço!
− Se soubesse que vossemecê era bruxa, havia ainda de a atirar com mais força! − disse o homem. − Então era a mãe que matava os meus ricos filhos?
Cheia de dores, a mãe respondeu-lhe:
− Ó filho, eu só queria fazer-te rico. Com tantos filhos, como é que endireitavas a vida?
- Source
- AA. VV., - Literatura Portuguesa de Tradição Oral s/l, Projecto Vercial - Univ. Trás -os-Montes e Alto Douro, 2003 , p.B1
- Year
- 2002
- Place of collection
- Cumieira, SANTA MARTA DE PENAGUIÃO, VILA REAL
- Collector
- Neuza Maria Sequeira Pereira (F)
- Informant
- Palmira Alves (F), 77 y.o.,