APL 217 A lenda da aranha

A Santa Família seguia o seu itinerário na rota do Egipto, muito confiante em Deus, de Quem tinham recebido ordem da fuga, mas pouco confiantes na malícia e crueldade dos homens. Procuram, pois, ocultar-se o mais possível, para não serem vistos, sobretudo com receio dos soldados do rei tirano.
 Em certa altura da viagem, encontraram uma gruta bastante espaçosa Resolveram pernoitar ali e descansar da fadiga da viagem.
 Enquanto dormiam, uma diligente aranha teceu uma grande teia que tapava completamente a entrada da gruta.
 As nossas donas de casa, sabem bem, por experiência própria, como este insecto é desembaraçado, pois muitas vezes tiram uma teia e, no dia seguinte, eia aparece de novo, já reconstruída!
 Os soldados de Herodes, que vinham seguindo as pegadas da burrinha, que, segundo a lenda transportava os poucos haveres da Sagrada Família, foram atraídos para a gruta por essas pegadas. Vendo, porém, a entrada vedada com a teia de aranha, disseram uns para os outros:
 — Aqui não podem estar porque, se entrassem, tinham que desfazer esta “aranheira”.
 E retiraram-se sem terem notado a presença das três Santas Pessoas.
 Quando José, Maria e o Menino acordaram e se dispunham a prosseguir viagem, notaram a teia de aranha na entrada da gruta, e, fora desta, as pegadas dos soldados.
 Compreenderam que tinham sido salvos pela humilde e fraca aranha.
 Nossa Senhora teria dito então:
 Bem hajas, pobre bichinho. Abençoado sejas por Deus. É essa a razão, ainda segundo a lenda, por que muitas pessoas não matam a aranha, limitando-se a espantá-la, pois têm a superstição de que, matando-a, traz azar.

Source
OLIVEIRA, Casimiro Raízes: Poesia, Contos e Lendas Mogadouro, Associação Cultural e Recreativa de Soutelo, 1998 , p.85-86
Place of collection
MOGADOURO, BRAGANÇA
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography