APL 1920 O Diabo e as amêndoas

Conta-se que certo dia o Diabo, ao passar pelo termo de Uva, Vimioso, encontrou uma amendoeira em flor e sentou-se em baixo, pensando que estaria prestes a dar fruto. Entretanto passou por ali Nosso Senhor e perguntou-lhe:
 — Que estás a fazer?
 — Estou à espera que esta árvore dê fruto. Como já está em flor, não deve demorar.
 — Não preferes antes ir esperar o fruto da cerejeira?
 — Isso é que não. Esta já está em flor e a cerejeira ainda nem botões tem.
 E assim lá continuou sentado à espera que a amendoeira desse frutos. Entretanto passou o tempo, a cerejeira começou a florir e logo deu os seus frutos. E toda a gente se consolou com eles.
 Quanto à amendoeira, tudo estava muito atrasado. E o Diabo já começava a perder a paciência. Por fim, lá apareceram as amêndoas. O Diabo, cansado de esperar, tratou logo de as ir comendo. Só que por cada uma que comia era tão grande a carranca que fazia, que afugentava tudo à volta. Passados alguns dias voltou a comer e aconteceu a mesma coisa. As amêndoas continuavam amargas.
 Até que perdeu de vez a paciência e acabou por se ir embora, a rogar pragas, e sem ter comido uma única amêndoa de jeito.

Source
PARAFITA, Alexandre Antologia de Contos Populares Vol. 1 Lisbon, Plátano Editora, 2001 , p.230
Year
1999
Place of collection
Uva, VIMIOSO, BRAGANÇA
Informant
Albino Rodrigues (M), 64 y.o., Uva (VIMIOSO),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography