APL 2505 Nossa Senhora do Pranto
Informante: Então era assim um casal jovem, a senhora andava de bebé e depois teve 7 meninas de uma só vez, eles eram um casal rico, gente rica mas ela só queria uma filha então mandou a empregada por seis ao rio dentro de uma cestinha onde nesse rio estava um pescador a pescar, mas o pai das seis meninas ao ver a empregada a ir por o cesto ao rio seguiu o rio, seguiu o cesto para ver onde chegava, onde viu o pescador com a cana de pesca puxar o cesto para a borda e então viu, seguiu o homenzito até casa quando ele viu que eram as seis meninas levou-as para casa e o pai das meninas a seguir chegou lá bateu à porta e disse-lhe:
-- Toma conta destas seis meninas que eu dou-lhe tudo o que tu precisares, não quero que te falte nada eu sou o pai delas a minha mulher não as quer e fica um segredo entre agente.
Passaram-se quinze anos a mãe lembrou-se de fazer uma festa à outra que ficou em casa e ele (o pai) descobriu qual era o fato que a mãe lhe tinha mandado fazer e mandou comprar tecido igual e mandou fazer seis fatos iguais à da filha que estava em casa, chegou ao pé do pescador e disse:
-- Tal dia há uma festa, tu chegas lá com as tuas seis meninas, porque elas são tuas, com as tuas seis meninas.
E isso aconteceu, ele foi, levou as seis meninas, no fim de todos terem jantado e coiso, quando foi a partir o bolo o marido disse à mulher:
-- Oh querida, dentro destas sete meninas qual é a tua filha?
E ela:
-- Não sei, ela são todas iguais, estão todas vestidas de iguais, não sei qual delas é a minha filha.
E ele respondeu:
-- Pois são todas tuas setes filhas, lembras-te à quinze anos, quando tu mandaste pôr seis ao rio, pois elas não morreram, eu tomei conta delas ou aliás, paguei para quem tomasse conta delas. E a filha que tinha sido criada no luxo, bem, ao ver que as irmãs passaram mal, fugiu de casa e foi para um sítio para um monte onde se abrigou num buraco e passado dias apareceu-lhe uma imagem de uma senhora muito gira e lhe perguntou:
-- O que é que estas aqui a fazer?
-- Eu tive que fugir, fugir e escondi-me para onde ninguém nunca me há-de ver.
E contou a história à senhora que lhe apareceu, e ela disse:
-- Pois a partir de hoje toda a gente te há-de ver.
Mas esse entremeio a senhora continuou a ir visitar a rapariga e coiso, e nota-se, notava-se ainda não há muito tempo um carreirinho onde ela (a menina) passava para ir ao rio beber água.
A menina, e a partir de ai começou a ser a nossa senhora do pranto porque ela tinha um pronto muito grande por ter sido criada com luxo e as irmãs na miséria e a partir dai começou a ser a nossa senhora do pronto, (… pequena interrupção da gravação, onde a informante afirmou acreditas na história e afirmou que tinha tomado conhecimento desta história através da mãe)…
Colector: E já contou esta história a muita gente?
Informante: A algumas, a algumas pessoas.
Colector: Então acha que esta história é verdade mesmo?
Informante: Eu acredito que sim realmente, também dizem que essa tal santa do pranto quando a gente está triste que lhe correm lágrimas dos olhos, eu nunca vi mas sei que uma altura estava lá a assistir, estava a rezar, a fazer as minhas orações, calhei a olhar e em vez de ela estar a chorar deu-me a impressão que a vi sorrir (disse a informante com um ar emocionado).
Colector: Rir uma imagem? Pois é muita gente diz que vê reacções nas imagens.
- Source
- AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) Faro, n/a,
- Year
- 2008
- Place of collection
- Rio De Couros, OURÉM, SANTARÉM
- Collector
- Marta Freitas (F)
- Informant
- Custódia (F), 36 y.o., born at Rio De Couros (OURÉM),