APL 2943 Zé Burreco
No Pego, antigamente, as casas eram pequenas e, por isso, era costume os rapazes solteiros dormirem no palheiro do burro.
Certa noite, um homem ainda novo, deita-se e quando está mesmo a adormecer, ouve vozes que o chamam da rua:
— Ó Zé Burreco!
O homem levanta-se, sai à rua e ouve novamente ao longe:
— Ó Zé Burreco!
O homem vai até ao largo do Senhor dos Aflitos e aí ouve de novo o chamamento, mas já num outro largo. Vai então ao largo da Barroca e aí ouve de novo, ao longe:
— Ó Zé Burreco!
Agora as vozes já vinham do largo do Sobral. O homem, teimoso, continua. Vai ao Sobral e lá as vozes continuam a chamá-lo, sempre ao longe.
De largo em largo, o homem vai até ao Fundo d’Aldeia. Ali acabam as casas, mas as vozes continuavam ao longe, vindas agora do caminho do Tejo.
— Ó Zé Burreco!
O homem parou para pensar. E disse para consigo: «Alto aí quisto são as bruxas a querer-me levar p’ró Tejo!». E, amedrontado, voltou para casa. Deitou-se de novo no palheiro e custou a adormecer.
Mas quem não dormiu foram as bruxas. Zangadas, por não terem conseguido o seu intento, foram até ao palheiro e vingaram-se. Na manhã seguinte, o Zé Burreco acordou com a boca cheia de bonicos.
- Source
- JANA, Isilda Histórias à Lareira , Palha de Abrantes, 1997 , p.25
- Place of collection
- Pego, ABRANTES, SANTARÉM
- Collector
- Isilda Jana (F)
- Informant
- Ti Florinda Manhosa (F),