APL 1152 As bruxas
Em tempos viveu por ali um grupo de mulheres que eram bruxas, mas das quais ninguém suspeitava. Reuniam-se pela calada da noite numa casa onde só vivia a “chefa” das bruxas e o marido.
Antes das outras chegaram, a “chefa” das bruxas dava chá de “dormeduras” ao marido e ele imediatamente entrava em sono profundo. Então as bruxas começavam a chegar, tiravam uma panela de unto que estava debaixo da pedra do lar, despiam-se e untavam-se. Começavam a bater os braços como que para voar, mas antes de partirem a “chefa” das bruxas fazia uma benzedura ao marido: Eu te benzo meu “banzebu” com a fraldinha do meu cu, se acordares não me faças mal nenhum”.
Depois todas juntas saíam voando enquanto a “chefa” das bruxas dizia: “Avoa, avoa por cima de toda a folha”. E assim se passavam as coisas ali, até que uma noite a “chefa” se enganou e disse: “Avoa, avoa por debaixo de toda a folha”, as bruxas meteram-se no meio das silvas e dos arbustos e ficaram todas arranhadas.
No dia seguinte a gente da aldeia que as viu assim bem desconfiou.
Mas o que aguçou a desconfiança do homem da “chefa” das bruxas, foi um vizinho.
“Que serões tão grandes fazes tu que se ouve tanto barulho na tua casa?”
Ao que respondeu:
“Logo que me deito à noite eu mais a minha mulher não fazemos barulho nenhum”.
Como o vizinho lhe chamou a atenção para o barulho por diversas vezes o homem começou a andar desconfiado.
E um dia não bebeu o chá que a mulher lhe dava, mas fingiu dormir profundamente.
Então assistiu a tudo o que as bruxas faziam (despirem-se, untarem-se, baterem os braços).
Quando a mulher lhe foi fazer a habitual benzedura ele respondeu: “Eu vos benzo minhas porcas rapadas com o rabo desta enxada” e deu-lhes sova tamanha que ao dia seguinte todas estavam assinaladas e toda a gente da aldeia as pôde identificar.
- Source
- MOURA, José Carlos Duarte Histórias e Superstições na Beira Baixa , RVJ editores, 2008 , p.12-13
- Place of collection
- Castelo Branco, CASTELO BRANCO, CASTELO BRANCO