APL 3181 A ronda das feiticeiras
O meu tio-avô tocava muito bem bandolim. Uma noite, a certa altura da madrugada, foram lá chamá-lo, à casa onde ele morava, em Meireles.
— Ó António Fraga, anda à ronda!
E ele foi. Foi à ronda. E andaram a tocar pelas ruas. E depois levaram-no para um ribeiro, o ribeiro do Olival da Porta, lá em Meireles, deram-lhe tanta porrada, tanta porrada... e deixaram-no lá. Mas aquilo era um ribeiro muito fundo, que ninguém dava lá com ele. Então ele, depois... muito mal, muito mal, começou a gemer, a gemer, e as pessoas que passavam ali prós terrenos, sentindo gemer, foram ver e lá estava ele, o coitado, no fundo do ribeiro. Salvaram-no e trouxeram-no pra casa. Mas elas antes de o deixarem lá no ribeiro, ainda lhe disseram:
— Se nos descobres, matamos-te!
Depois, passados tempos, foram lá elas chamar outra vez:
— Ó António Fraga, anda à ronda!
E ele diz:
— Não, não vou. Ide vós!
E diz que era então uma chocalhada muito grande, muito grande...!
- Source
- PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro (Narrações Orais), Vol. 2 , Fundação Museu do Douro, 2010 , p.300
- Year
- 2010
- Place of collection
- Vilas Boas, VILA FLOR, BRAGANÇA
- Informant
- Maria de Lurdes Dionísio Ala (F), 61 y.o.,