APL 1090 A namorada do Vale d'Água
Informaram-me ter sido o meu pai o protagonista desta história.
Era novo e namorava na altura uma moça no Vale d’Água. Às tantas da noite, e depois de estar com ela, vinha para casa, a pé como era natural para aquela época e lugar.
A moça gostava muito dele e certo dia aconteceu o seguinte: namoraram pela noite dentro e devido ao adiantado da hora tinha que regressar. Despediu-se, saiu, mas a partir daí não soube de mais nada. Desconhece como e onde passou a Ribeira do Alvito. Desconhece como atravessou a Serra por veredas quase irreconhecíveis.
Teria vindo a dormir todo o tempo? E nem ao menos acordaria ao atravessar a Ribeira do Alvito? Pois atravessá-la sem acordar era quase impossível, pois tinha que se despir e fazer, pelo escuro, grande equilíbrio sobre os saltos da ribeira.
Recorda foi ter chegado a casa da Tia Antónia, já às portas de Rabacinas, e logo após, ter passado as mãos pela cabeça de uma rapariga, afagando-a e espetando-lhe os dedos no cabelo.
Depois deu-lhe vontade de verter águas e verteu.
Chegou a casa.
No outro dia, antes da manhã romper, lembrou-se do acontecido e disse para os irmãos:
- Ontem aconteceu-me isto assim assim..., não sei se sonhei ou se foi verdade.
Para se certificar, pegou na oçadoira com a intenção de ir ao mato e tomou o caminho que utilizara na noite anterior.
Ao chegar junto do sítio onde mijou, ou sonhou ter mijado, viu claros indícios de o terem feito recentemente.
Então pensou: “aquela mulher é bruxa, gosta muito de mim, como era tarde pegou-me e veio trazer-me a casa.”
- Source
- HENRIQUES, Francisco Contos Populares e Lendas dos Cortelhões e dos Plingacheiros , Associação de Estudos do Alto Tejo, 2001 , p.111-112
- Year
- 1984
- Place of collection
- PROENÇA-A-NOVA, CASTELO BRANCO
- Collector
- Francisco Henriques (M)
- Informant
- José Henriques (M), PROENÇA-A-NOVA (CASTELO BRANCO),