APL 36 O almocreve e as bruxas

Era um almocreve que dava pancada na mulher, que era uma coisa doida. Andava por lá e quando chegava a casa — coitadinha! — aguentava ali quantas ele lhe desse!...
 Certa noite passou numa ponte e ouviu bruxas a falar. Quedou os machos e pôs-se a ouvir. Diziam elas:
 — Ali vai o “gajo”! Mas ele não sabe a grande “toureadela” que a mulher lhe vai dar. Eu hoje já lhe fui encher a sopa de cinza...
 — Não fizeste nada de mais! Eu enchi-lhe a comida de “hortelica” e alho com cascalho.
 Chegou a casa e a mulher cheia de medo pediu-lhe:
 — Ó homem, tu não me batas!
 — Olha que não, eu hoje não te bato, não te aflijas.
 — A ceia está pronta...
 — Hoje não quero comer. Anda-me ajudar a descarregar os machos.
 Lá foram... até que se deitaram.
 Às tantas da noite ouviu-se uma grande restolhada. O almocreve levantou-se e percebeu logo do que se tratava:
 — Ó grandes... Andai cá... Não tenho medo de vós. Sois a arrelia da minha casa.
 No telhado parecia que estavam todos os diabos do Inferno.
 — Deixa estar que eu já vos espanto!

Quista, com quista,
No meio desta casa,
Em todo o lugar que eu esteja,
S. Pedro, S. Paulo, S. João Baptista!

 Mal disse estas palavras, as bruxas largaram logo e deixaram de enrodilhar a vida do homem. Daí em diante, o almocreve e a mulher davam-se como Deus com os anjos.

Source
CAMPOS, Beatriz C. D. Tarouca, Folclore e Linguística , Câmara Municipal de Tarouca / Escola Preparatória de Tarouca, 1985 , p.30-31
Place of collection
Granja Nova, TAROUCA, VISEU
Informant
António de Oliveira Santos (M), Granja Nova (TAROUCA),
Narrative
When
20 Century, 80s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography