APL 40 Avó, bruxa e maltusiana
Um casal tinha muitos filhos, mas, na véspera do baptizado, depois de estar a despesa da cerimónia toda feita, eles morriam sem se saber de que doença. O homem jurou que, quando nascesse o próximo filho, havia de descobrir quem o queria matar. Nasceu novo filho: a mãe ficou a vigiar o berço até à meia-noite e o pai daí em diante.
Quando chegou a vez do marido, ele sentou-se ao pé do berço e ficou de vigília, à espera que alguma coisa acontecesse. A certa altura apareceu uma almotolia: tomba aqui, tomba ali, à volta do berço. O homem chamou a mulher:
— Anda cá depressa! Anda aqui uma almotolia à volta do berço do nosso filho. Será ela que mata os nossos filhos?!
— Ó homem, manda-a já pela janela fora antes que haja outra desgraça!
O homem apressou-se a lançar a almotolia pela janela fora e com toda a força. Ouviu a voz da mãe a queixar-se:
— Ai, filho, que me partiste um braço!
— Se soubesse que vossemecê era bruxa, havia ainda de a atirar com mais força! Era a mãe que matava os meus ricos filhos?!
Cheia de dores, a mãe respondeu-lhe:
— Ó filho, eu só queria fazer-te rico. Com tantos filhos como é que endireitavas a vida?!...
- Source
- CAMPOS, Beatriz C. D. Tarouca, Folclore e Linguística , Câmara Municipal de Tarouca / Escola Preparatória de Tarouca, 1985 , p.33
- Place of collection
- TAROUCA, VISEU
- Informant
- Laurentina da Silva Veloso (F), TAROUCA (VISEU),