APL 31 Feitiço no alambique
O meu marido foi fazer aguardente a um alambique. Como às vezes acontecia, teve que lá pernoitar. O quarto não tinha janelas. A certa altura acordou surpreso com tudo iluminado. O seu espanto foi ainda maior quando viu uma rapariga de cabelo comprido, pessoa que conhecia muito bem, mas cujo nome nunca me quis dizer com medo de aparecer esganado. Os lençóis, as mantas e a própria roupa estavam enrolados à sua volta. Perguntou-lhe:
— Tu... agora aqui!...
— Levanta-te e vai “mij...”!
— Não tenho vontade...
Lá teve que se levantar e foi cumprir a ordem a um canavial próximo. Ali chegado, ouviu tocar meia-noite em Salzedas.
Quando regressou já não viu a rapariga. Teve a ideia de a seguir mas desistiu com medo que o matassem.
Pedi-lhe muito para me dizer quem era ela, mas sempre se negou.
- Source
- CAMPOS, Beatriz C. D. Tarouca, Folclore e Linguística , Câmara Municipal de Tarouca / Escola Preparatória de Tarouca, 1985 , p.27
- Place of collection
- Ucanha, TAROUCA, VISEU
- Informant
- Maria da Conceição Loureiro (F), Ucanha (TAROUCA),