APL 1669 Bruxas mortas

Eram dois rapazes, cada um dos quais namorava a sua rapariga, e, como elas eram irmãs e viviam na mesma casa, os rapazes iam sempre de companhia. Repararam em que as conversadas achavam desculpa para lhes não falar ás terças e sextas-feiras, e para descobrir o segredo, na primeira terça-feira puderam subir ao telhado da casa e pelas fendas das telhas ver o que se passava dentro.
 A certa hora da noite, elas lavaram-se e começaram a comer umas papas, quando entrou um carneiro (era o diabo) a balar “mé”.
 “Deixemos as papas arrefecer que temos tempo de ir ao Rio de Janeiro e vir a tempo.”
 E, suposto a porta estivesse fechada à chave, elas e o diabo desapareceram pela fechadura. Os rapazes desceram; deitaram nas papas uma pouca da água em que elas se tinham lavado, e que por causa dos unguentos, com que primeiro se untaram, era envenenada, e voltaram para o seu ponto de observação.
 Passado tempo não muito, as duas bruxas estavam de volta com uma criança de poucos anos.
 Consultaram se haviam de comer a criança antes ou depois das papas, e decidiram em comer as papas primeiro. Mas, comidas as papas, caíram para o lado mortas.
 Soube-se que a criança tinha sido roubada no Rio de Janeiro; porque faltando da casa, os pais procuraram por toda a parte, e combinadas as notícias do que se passou em Portugal vieram dar com ela, mas tantos anos depois que um dos rapazes, que tomou conta dela estava em vésperas de a desposar. O pai deu-lha com um grande dote.

Source
SARMENTO, Francisco Martins Antígua, Tradições e Contos Populares , Sociedade Martins Sarmento, 1998 , p.218-219
Place of collection
GUIMARÃES, BRAGA
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography