APL 42 Bruxas na família
Dois almocreves andavam com os seus burros a vender milho.
Numa das terras por onde passaram pediram colheita numa casa e lá pernoitaram. A certa altura da noite acordaram e ouviram a filha do dono da casa dizer:
— Ó mãe, então hoje vamos ficar sem chupar sangue?
Não fizeram caso e adormeceram. Mais tarde, as duas foram ao quarto dos almocreves, mas não puderam chupar-lhes o sangue porque tinham alho com eles.
— Então hoje vamos ficar sem chupar um bocadinho de sangue, mãe? — tornaram eles a ouvir dizer a rapariga.
— Olha, vamos lá outra vez ao teu pai. Mas não podemos tirar muito, que ele já está tão magrinho que qualquer dia morre.
Os almocreves ficaram a saber que as duas eram bruxas. De manhã, quando se despediram do dono da casa, perguntaram-lhe:
— O senhor está tão magrinho... De que doença é que sofre?
Ele respondeu que estava farto de correr médicos que não lhe davam com a cura.
Os almocreves aconselharam-no:
— Desbulhe um dente de alho, corte-o às rodelas e enfie-as numa linha; não as largue nem de dia nem de noite. Daqui a um mês nós passamos por cá e havemos de ver se deu resultado.
Um mês depois, os almocreves retornaram e já o encontraram gordo e anafado. Explicaram-lhe, então, que a mulher e a filha eram bruxas.
- Source
- CAMPOS, Beatriz C. D. Tarouca, Folclore e Linguística , Câmara Municipal de Tarouca / Escola Preparatória de Tarouca, 1985 , p.36-37
- Place of collection
- TAROUCA, VISEU
- Collector
- Paula Maria Soares de Carvalho (F)