APL 1088 O coice do lobisomem

Ambos entraram no moinho. Acenderam a candeia e puseram-se ao trabalho.
 No fim, deitaram-se sobre sacos vazios e entre taleigos, mais para descansar do que para dormir.
 Mas, quando um deles enchera as bochechas e se debruçara sobre a laje grande do poial para apagar a candeia, ouviram-se dois grandes coices na porta. O moinho tremeu. Apagou-se a candeia. Ficaram aterrorizados e silenciosos.
 Reacenderam a candeia. Que desalinho! A mó continuava a girar, mas o telhado ficou limpo das teias de aranha. Tal a violência do coice.
 - Obra de cavalo. Disse um.
 - De lobisomem. Disse o companheiro.
 Não dormiram o resto da noite e mal falaram.
 Ainda mal a manhã nascera já os dois irmãos procuravam na porta sinais de ferraduras.
 - Dois coices daqueles tinham de deixar marcas.
 - Mas não deixaram, não se vêem. Disse o outro.
 - Só pode ter sido o lobisomem. Sabes que eles não podem ver luz. Viu-a. atirou-se contra a porta com o estrondo apagou-se a candeia e com a escuridão afastou-se. Foi o que nos valeu.
 - Á, quem nos vai acreditar?

Source
HENRIQUES, Francisco Contos Populares e Lendas dos Cortelhões e dos Plingacheiros , Associação de Estudos do Alto Tejo, 2001 , p.109-110
Place of collection
PROENÇA-A-NOVA, CASTELO BRANCO
Collector
Francisco Henriques (M)
Informant
Luis Henriques (M), PROENÇA-A-NOVA (CASTELO BRANCO),
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography