APL 151 O lobisomem
Era uma vez dois rapazes que foram a um baile. A certa altura, um deles chamô o ôtro pra se irem embora e ele nã quis, ficô mais tempo.
Mais tarde, quando aquele que ficô no baile abalô, pelo caminho encontrô um burro e disse:
— Ai, que bom, um burro pra eu ir a cavalo!
Montô-se no burro e começô a andar. Ao fim de pôco tempo, o burro começô a crescer, a crescer, a crescer... Ficô muito alto e o rapaz ficô muito assustado. Depois, quando o burro começô a diminuir, ele conseguiu sair e caminhô rapidamente pra casa, dêxando o burro.
Entretanto, chegô mais à frente e encontrô o colega que tinha ido ao baile com ele:
— Então, só agora é qu’aí vens? — perguntô-lhe o colega.
O ôtro contô o sucedido, dizendo que vinha muito assustado com tudo o que se tinha passado e o colega respondeu-lhe:
— Nunca faças isso! De noite, nã te metas com quem passa, quem vai, vai e quem está, está! Eu podia matar-te.
— Então eras tu?! — perguntôu o rapaz.
Ele disse-lhe que sim, que vinha transformado em burro, que era lobisomem e que só ele lhe podia quebrar a sina, se ele quisesse. O ôtro perguntô-lhe como é que podia fazer isso e, então, combinaram o dia, a hora e o local do encontro num cruzamento. Nesse sítio, passaria um cavalo, a grande velocidade, e era para o rapaz espetar um espeto do lado esquerdo do cavalo. S’ele conseguisse espetá-lo, quebrava-lh’a sina, s’ele errasse, ficava igual ao ôtro.
Nesse dia, à hora marcada e no ideal combinado, passô o dito cavalo em grande correria. O rapaz, com o espeto, conseguiu espetá-lo no lado esquerdo, quebrando, assim, a sina do ôtro.
- Source
- GRAÇA, Natália Maria Lopes Nunes da Formas do Sagrado e do Profano na Tradição Popular , Colibri, 2000 , p.199
- Place of collection
- Margem, GAVIÃO, PORTALEGRE
- Informant
- Maria José Lopes Neves (F), 40 y.o., Margem (GAVIÃO),