APL 424 Lobishomens

No tempo dos avós dos meus avós, segundo eles, andavam á noite, a horas mortas, fantasmas por sítios mal iluminados, sendo muito arriscado andar por eles a partir de certas horas.
 Eram figuras de grandes balandráus brancos, com lençóis soltos ao vento com uma luzinha acesa na cabeça, que mais parecia uma lanterna em dia de procissão. Andavam a grandes passadas, desconsertantes, ora à direita ora à esquerda, como embriagados. Montavam em cima de altas andarilhas, atingindo as cabeças os primeiros andares dos prédios. Não tinham voz. Apenas o som das andarilhas na calçada. Caminhavam apoiados, em grandes varapaus para se equilibrarem. 
 Ninguém se atrevia a deitar a cabecinha de fora das janelas ou das portas, que na sua maioria se apresentavam trancadas não fosse o lobishomem deitar algum mau olhado... e deixar-lhes alguma marca para o resto da vida.
 Com o andar dos tempos o homem das andarilhas acabava por ser descoberto.
 Tratava-se de um estratagema para abusar das pessoas simples e temorosas e facilitar o trabalho de certos conquistadores baratos que pretendiam entrar, para aventuras clandestinas, em casa de certas “senhoras”, de certas “meninas virtuosas” para poderem continuar camufladas na sua “boa reputação”.
 Saíam depois já madrugada alta, quando tudo dormia, sem receio de serem espiados de qualquer janela, com o caminho aberto.
 Assim também se guardava a “virtude” daqueles tempos.

Source
S/A, . Lendas e Outras Histórias , Escola Porfissional da Região Alentejo / Núcleo de Dinamização Cultural de Estremoz, 1995 , p.31-33
Place of collection
ESTREMOZ, ÉVORA
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography