APL 27 Um lobisomem mal agradecido
“Os rapazes do meu tempo contavam às vezes que andavam os “lobisomens”.
Uma ocasião andava um a fazer a ronda, desinquietado por não ter ainda comido um coração vivo. Avisaram um lavrador.
— Anda aí um lobisomem!
— Ai, eu não tenho medo dele!
“Pegou”, esperou — acho que fazendo-lhe sangue quebravam o encanto. O tal lobisomem lá ia na sua fúria. O lavrador pôs-se de longe com uma aguilhada e fez-lhe sangue. O lobisomem ficou homem como um outro qualquer. Ele, na altura, agradeceu, mas depois quis vingar-se e disse:
— Ficas aqui e eu vou buscar uma recompensa por aquilo que me fizeste.
O lavrador pensou:
— Bem, quem sabe lá o que tu vais fazer... o que tu vais buscar?
“Pegou” — ele tinha um capote daqueles que havia à “cabelaria” — tirou o capote e pendurou-o no estadulho de um carro. Desviou-se. O que é que ele foi buscar? Um revólver para o matar. Depois “arrumou” os tiros mas foi no capote...”
- Source
- CAMPOS, Beatriz C. D. Tarouca, Folclore e Linguística , Câmara Municipal de Tarouca / Escola Preparatória de Tarouca, 1985 , p.24-25
- Place of collection
- Ucanha, TAROUCA, VISEU
- Informant
- Maria Ester Rebelo (F), Ucanha (TAROUCA),