APL 2215 São Marcos (a)
No Vale de Marcos havia um lavrador. Uma vez foi lá um mendigo pedir-lhe que lhe desse um terreno para edificar uma casinha e para ter horta, e que lhe emprestasse uns bois. O lavrador tomou aquilo por graça e disse-lhe que sim; mas recomendou ao boieiro que lhe desse os bois mais bravos que lá havia e em que ainda ninguém tinha pegado. Depois mandou o mendigo ao boieiro, que cumpriu as ordens do amo. O mendigo apanhou uma varinha de esteva, descascou-a, tocou com ela os bois, assògou-os, levou-os ao carro e brochou-os (prendeu-os ao carro; brocha — correia que prende a canga ao pescoço do boi). Depois foi buscar pedra que ajuntou no sítio, em que hoje está a capela. Pôs um arado aos bois e levou-os ao dono, fazendo um grande rego, de modo que o dono visse que eles já estavam amansados e podiam trabalhar; perguntou-lhe se os queria como estavam ou como eram e depois desapareceu. Posteriormente o lavrador, passando no sítio em que estava a pedra, achou lá uma imagem de um santo que, por achar curiosa, levou para casa. No dia seguinte a imagem desapareceu de casa e apareceu no sítio, onde primeiramente tinha sido encontrada. O lavrador tornou a levá-la para casa e ela tornou a fazer o mesmo, até que o lavrador reparou que ela se parecia com o mendigo e disse: «O pobre é santo! A casa que ele queria fazer era a capela». E em seguida o lavrador fez-lhe a capela, que ainda hoje é tão venerada de fiéis — capela de S. Marcos. Daqui a origem de afirmar-se que o santo amansa os bois.
- Source
- VASCONCELLOS, J. Leite de Contos Populares e Lendas II , por ordem da universidade, 1966 , p.572-573
- Year
- 1893
- Place of collection
- São Marcos, SINTRA, LISBOA