APL 2376 Senhora da Atalaia

No princípio do século XII, depois da conquista de Lisboa pelo fundador da monarquia, (supõe-se que foi naquele século) apareceu (diz a tradição) uma imagem de Nossa Senhora numa aroeira, na encosta do monte da Atalaia, distante uns 300 metros ao nascente da capela que hoje ali existe, próximo da célebre fonte, que tão concorrida é pelos romeiros, por ocasião das festas que se fazem naquele recinto. Os indivíduos que encontraram a imagem levaram-na para uma casinha que existia no alto da Atalaia e ali a depositaram numa camareira. Logo que isto constou em Lisboa e seus arredores, diz a lenda que muita gente correu ao monte da Atalaia para adorar a imagem misteriosamente aparecida. A devoção continuou, e mais tarde o povo erigiu junto tal casinha uma ermida, colocando no altar-mor a imagem aparecida. No dia seguinte, diz a tradição, que a santa fora encontrada no local para onde a haviam primeiro removido, isto é, na cantareira da referida cozinha, onde se diz que é hoje a sacristia da igreja de Nossa Senhora da Atalaia.
 Tantas vezes se deu aquele caso misterioso, que os devotos viram-se obrigados a mandar fazer outra imagem, que ficou denominada «Senhora Moça». Esta foi colocada no altar-mor em lugar daquela, até que mais tarde se construiu um altar junto da mesma ermida, no sítio da cantareira, que, segundo se diz, é a sacristia da actual igreja de Nossa Senhora da Atalaia.
 E célebre a fonte da Atalaia, em que a tradição diz que foi ali, em cima de uma aroeira, que apareceu a imagem da Virgem, como acima já relatámos.
 Esta fonte, na sua primitiva, constava de uma pequena nascente de água que brotava junto aos planos adjacentes ao monte da Atalaia, lado do nascente. Parece que nos meados do século XVI algum círio que de Lisboa ia a Atalaia se incumbiu de ali construir um modesto chafariz, pois que numa quinta contígua foi achada uma lápide onde se lê: «Obra da confraria de Lisboa».
 Em 1752 foi restaurado por conta da câmara municipal de Aldeia Galega. Com o decorrer do tempo foi-se deteriorando, até que no ano de 1873, a câmara municipal de Alcochete, a quem de facto hoje pertence, a mandou reparar, como se vê no rótulo da lápide que encima a mesma fonte, da forma seguinte:
 «Fonte de Nossa Senhora da Atalaia, mandada reedificar pela câmara de Alcochete, em 1873».
 No distrito de Lisboa pode afirmar-se que são aquelas as festas mais concorridas pela classe popular. Alguns anos têm-se ali juntado cerca de 10 000 pessoas.
 Além das festas da igreja, há arraial, feira anual de gado de todas as espécies, onde se fazem grandes transacções. Dura três dias».

Source
VASCONCELLOS, J. Leite de Contos Populares e Lendas II , por ordem da universidade, 1966 , p.497-499
Place of collection
Atalaia, MONTIJO, SETÚBAL
Narrative
When
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography