APL 2920 [esponjinho]

Um esponjinho é quando no verão está tudo muito calmo e de repente se levanta muito vento. É como que seja assim uma coisa que vem do chão, de repente, eu sei lá. Deus nos acuda! É muito perigoso se alguém chegar ao pé. Está tudo ligado com as almas perdidas. Lá na minha terra, uma vez no verão levantou-se um esponginho muito grande no meio do milho. A gente andava a sachar milho.
Estava tudo muito calmo quando, de repente, começou aquela ventania toda no meio do milho. Toda a gente começou a chegar-se para trás e ficou tudo muito calado. Não se pode falar. E quem falar, Nosso Senhor castiga-o. Andavam lá a trabalhar duas irmãs ali da Azenha. Mas uma era levada do diabo para falar e então chegou-se perto do esponjinho e começou a fazer assim: brec, brec, brec…
Parece que o vento ficou maluco e fez um buraco no chão. Foi como se entrasse pelo chão dentro. E começou também a dar muitos estoiros, mais pareciam bombos. E ficou tudo cheio de medo. Isso só aconteceu porque a rapariga falou. Não se pode falar senão Deus (ou o diabo) castiga-nos. No outro ano a seguir, num dia que estava a fazer muita trovoada, essa moça vinha da horta com a canastra à cabeça e caiu-lhe uma peste em cima.

Source
SALVADO, Maria Adelaide Neto Remoínhos, Ventos e Tempos da Beira , Band, 2000 , p.40-41
Year
1994
Place of collection
Proença-A-Nova, PROENÇA-A-NOVA, CASTELO BRANCO
Collector
Maria de Fátima Gonçalves (F)
Informant
João Ribeiro (M), 85 y.o.,
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography