APL 1718 O cruzeiro da Senhora d’Agonia
Consta-se que a família dos Fontes, que era uma família muito abastarda (e que ainda tem descendentes na aldeia de Justes) tinham uma mula, e essa mula diz que era o diabo, que até roía os ferrolhos das portas.
Acontece que ela se soltava muitas vezes e vinha pelo caminho fora. A rapaziada, que n’altura gostava de andar na borga até tarde, normalmente, encontravam a burra e iam entregá-la ao dono. Mas naquele dia (um certo dia), houve um mais safado que disse:
- Hoje não entregamos a burra, sem antes darmos uma volta ao povo nela.
E, resolveram montar na burra. Mas quando montou a burra, a burra parecia-lhe um cavalo e alguém daqueles rapazes que ficaram a pé, ficaram muito aflitos e disseram:
- Olha que não é a burra dos Fontes, isso não é burra nenhuma!
Ele tentou descer, mas não conseguiu, a burra fugiu desenfreada.
Não se sabe ao certo por onde, mas passou no Largo da Senhora d’Agonia e ali parou.
Ele, tão aflito, tão aflito que ia em cima da burra, prometeu erguer ali um Cruzeiro à Senhora d’Agonia, no caso de conseguir salvar-se. Naquela hora que prometeu, a burra deu um pinote e ele caiu no chão. Os colegas pensaram qu’ele estava todo partido, mas ele saiu ileso e os colegas puseram-se todos ao redor dele.
Diz que essa burra começou a correr desenfreada pela Rua da Fonteinhas abaixo. Diz que conforme fugia, parecia um cavalo branco.
Quando os colegas o foram ver, ele estava ileso e diz-se que ouviram um barulho enorme, como se fosse pedras dos muros a cair. Foram ver e as paredes estavam caídas naquela noite e disseram:
- Andava o diabo à solta.
- Source
- AA. VV., - Literatura da tradição oral do concelho de Vila Real , UTAD / Centro de Estudos de Letras (Projecto: Estudos de Produção Literária Transmontano-duriense),
- Place of collection
- Justes, VILA REAL, VILA REAL
- Informant
- Armanda Felícia (F), 45 y.o., Justes (VILA REAL),