APL 28 Malefício na encruzilhada
Aí pelo dia 23 de Dezembro, devia ser meia-noite, eu ia daqui, de Eira Queimada, para Gouviães. Para encurtar caminho, meti por um atalho. Chego acolá acima, numa encruzilhada a que chamam Salgueiro, encaro com uma pessoa que vinha para baixo e que cortou para a direita. Segui a minha rotina do caminho. Cheguei à encruzilhada para Vila Pouca e voltei a encontrar um homem que seguiu para a esquerda. Sigo na mesma a minha rotina por aí acima. Tinha tanto medo como tenho agora aqui. Cheguei à encruzilhada do Senhor da Salvação e estava outro homem ali de pé. Dei-lhe as boas-noites, mas não me respondeu. Adiante, no lugar do Soito, donde tiravam o barro, vêm-me duas pedradas atrás de mim... caíram todas ao lado e não me fizeram mal nenhum. Eu era novo e, como andava sempre de noite, trazia um “canhoto” no bolso. Tiro-o e disparo para trás: tau, tau, tau.. Ah, bom!... Não havia nenhuma bala. Cheguei a casa com uma dor de cabeça maior que o meu corpo. No outro dia não pude ir trabalhar por causa da cabeça e tinha os lábios cheios de arejos. Durante aquele dia não me levantei. Só no dia seguinte. Digo assim para mim:
— Nunca o revólver me negou fogo e porque é que mo negou anteontem?!
E não é que eu estava a experimentar o revólver em frente da janela e ele disparou! As balas por pouco não atingiram a minha irmã na barriga!... Parecia que era o diabo que estava outra vez comigo. Andei incomodado, mesmo doente, com os lábios rebentados durante quinze dias.
- Source
- CAMPOS, Beatriz C. D. Tarouca, Folclore e Linguística , Câmara Municipal de Tarouca / Escola Preparatória de Tarouca, 1985 , p.25
- Place of collection
- TAROUCA, VISEU
- Informant
- Francisco Saraiva Pereira (M), TAROUCA (VISEU),