APL 2016 A Zorra de Odelouca
Concelho de Silves. Há muitos anos, não sabemos quantos anos há. Considera-se uma lenda. Apareceu… Havia lá uma senhora que roubava nas tremas e arrancava os marcos e punha mais para o lado do vizinho, roubava por interesse dela e houve uma vez um compadre que lhe disse:
- Ò comadre não faça isso. Isso são coisas que não se devem fazer porque um dia quando morrer vai dar contas a Deus e anda por ai a penar.
E ela dizia, a olhar para o compadre:
- Nesta vida bem passar que na outra ninguém nos vê penar.
E lá foi continuando a roubar. Roubava sempre as tremas e quando chegou a altura já tinha muitos terrenos que ela roubava. Quando chegou a altura de morrer, a fim de tempo, começam as pessoas a ouvir às tremas onde ela roubava o que parecia um bicho a berrar. Parecia uma zorra. E então começaram a falar isso, começaram a ter esses comentários. Vieram a descobrir, diz que era o espírito dessa mulher, que como tinha roubado nas tremas e tinha sido avisada. Não tinha ligado importância, veio, teve o problema de vir ver, todos a ouvirem porque ela andava cá a penar. E, então, ouve muita gente que, pronto, tinha medo.
Então houve um rapazito, naquele tempo que não havia luz eléctrica, foi comprar petróleo a uma venda, uma mercearia, naquele tempo no campo. E ia por uns serros e começa a ouvir um bicho ao pé dele a berrar. Então diz que o moçito diz:
- Vai-te embora zorra. Vai-te embora puta. Diz que quanto mais ele dizia isto mais aquilo berrava ao pé dele. Diz que veio para casa, contou à família. A família [ficou] toda com muito medo. Diz que levou umas quantas noites debaixo da almofada dele a ouvir aqueles berros. Porque ia dando em doido. Com aquela situação que diz que era o espírito dessa mulher que andava penando pelo mundo pelo mal que tinha feito, a roubar nas tremas e roubar aquilo que não era dela.
- Source
- AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) , n/a,
- Year
- 2005
- Place of collection
- Silves, SILVES, FARO
- Collector
- Cátia Romão (F)
- Informant
- Maria Esmeraldina Pacheco dos Reis (F), 62 y.o., born at Silves (SILVES),