APL 1096 O Medo do Vale d'Água
O mê pai também... qu’ uma vez forim ós peixes, ó engano. Ó engano. apanham-se os peixes só na corrente, é pôr e alevantar a rede, só pôr e alevantar a rede. Quande os peixes estão a desovár, é só de noite, e põe e tira e põe e tira e qu’ andavam no Vale d’ Água a pescar ó engano. O meu pai mais um pastor, aquele que lá tinha, porque ele tinha lá sempre assim um pastor, qu’ era o Ti Isidro Seca e diz qu’ ouviu tanto barulhe p’ la quela ribeira abaixo, p’ la quela cascalheira da ribeira abaixo, partia a cascalheira toda. E era o mê pai assim:
- Ai, tá um aqui tão grande, tão grande!
E era assim o Ti Isidro Seco:
- Vamos imbora, vamos imbora, vamos imbora, vamos imbora.
- Não, vamos aqui mais pra cima.
- Não, vamos imbora, vamos imbora.
E ó fim disse assim, quande foi p’lo Vale d’ Água acima.
- Ó Arturio, quando stavas a dizer que aqui stava um tão grande, se tu visses tanto barulho que vinha p’ la quela barrera abaixe, tanto barulhe, tanto barulhe.
E depois aquile passou á lado e o mê pai nunca s’ apercebeu d’ nada, com barulhe d’água e sempre assim a falar. Diz assim o outro:
- Tanto barulho. E quis-se logue fugir pra s’ ir imbora.
- Source
- HENRIQUES, Francisco Contos Populares e Lendas dos Cortelhões e dos Plingacheiros , Associação de Estudos do Alto Tejo, 2001 , p.120-121
- Year
- 1990
- Place of collection
- MAÇÃO, SANTARÉM
- Collector
- Francisco Henriques (M)
- Informant
- Maria de Lurdes Pereira (F), MAÇÃO (SANTARÉM),