APL 183 Cruz Quebrada

A paisagem da encosta de Santa Catarina de Ribamar era animada pelo alegre movimento das alvas velas de um moinho, então aí existente. Fronteiro, mais abaixo, sobranceiro ao Jamor, a presença protectora de um cruzeiro.
 Simão Brás, o seu moleiro, homem rude e lerdo, prendera-se de amores, não correspondidos, a uma padeira do vizinho lugar de Linda-a-Pastora. Desesperado pelo insucesso, quase a raiar a loucura, procurou lenitivo nas prédicas de um “luterano do norte” que o convenceu que o símbolo da redenção era um sinal pagão.
 Por a sua paixão não ter obtido o apoio divino, num assomo de incontido e violento despeito iconoclasta, então, noite alta, foi-se à cruz, pensando não ser observado, e derrubou-a, mutilando-a. Vingara-se, mas perdera-se, porque madrugadoras lavadeiras, que cedo passavam para a sua tarefa no Jamor, viram-no. Surpreendidas e assustadas, fugiram e denunciaram a insólita situação.
 Preso na Inquisição, Simão Brás passou por torturas nos cárceres do Rossio e foi condenado pelo Tribunal à pena máxima. Foi então “queimado vivo no lugar em que mutilara a cruz”.
 “Clero, nobreza e povo, começaram desde então a vir em romaria de penitência ao sítio do sacrilégio, que se ficou chamando da “Cruz Quebrada” em memória do atentado”.

Source
MIRANDA, Jorge Viagem pelas Lendas do Concelho de Oeiras , Câmara Municipal de Oeiras, 1998 , p.26
Place of collection
Cruz Quebrada-Dafundo, OEIRAS, LISBOA
Narrative
When
17 Century,
Belief
Convinced Belief
Classifications

Bibliography