APL 3412 Rapa Velha

Fica a 6 kilometros do logar de Linhares, termo da villa transmontana de Anciães. A uns 3 kilometros do dito logar, e a 45 metros do rio Douro, proximo do Cachão da Rapa, está um grande rochedo, que se despenha para o rio, e sobre o rochedo um penedo de 6m,60 de alto, e da fórma de um tonel.
    Tinha uma inscripção antiquissima, que, por gasta, se não póde ler.
    Pelos annos de 1720, José Macedo Rosales, de S. João da Pesqueira, mandou seu irmão, Antonio Rosales de Carvalho, morador no logar de Nogarêlho, que fica proximo do referido penedo, que o fosse examinar. Eis, em resumo, o que informou Carvalho.
    Entre o Cachão da Rapa e a Pesqueira do Marulho, no termo d’Anciães, comarca da Torre de Moncorvo, está um grande penedo, proximo da corrente do rio, mas onde não chegam as aguas d’elle.
    Segundo a tradição, ao fundo d’este penedo havia uma entrada para uma gruta, cujo centro ainda ninguem se atreveu a investigar.
    Diz.se que; querendo um clerigo de Linhares examinal-a, sahiu d’ella mudo, não tornando a recobrar a falla, e nem por escripto disse o que lá dentro viu.
    Já se não vê a tal gruta, mas vê-se o sitio onde, pelos annos 1705, entraram uns desconhecidos, com picões, alavancas e outros instrumentos, e convidando operarios do logar de Nogarêllo (aos quaes pagaram generosamente) para os ajudar, romperam a gruta, e consta que levaram uma grande cruz de prata e outros objectos de valor.
    Diz-se que no verão mana das fendas d’este rochedo um betume, semelhante a petroleo.
    Ao fundo do penedo, da parte que olha para o Douro, existe um portal, que parece obra da natureza, e dá entrada para uma grande sala, com assentos em redor, e no meio uma grande meza, tudo de pedra. N’esta sala ha uma porta, que provavelmente conduz a outras interiores, que ninguem tem querido examinar,
    Consta que o padre Domingos Mendes, na manhã de S. João, do anno de 1678, com sobrepeliz e estola, pretendeu penetrar n’estas concavidades, em busca de thesouros encantados; mas que, entrando na segunda sala, sentiu um cheiro tão pestilente, e teve tal medo, que fugiu tremendo, e ficou mentecapto o resto dos seus dias, que foram poucos. Também se diz que pouco depois de sahir d’este antro, lhe cahiram todos os dentes.
    Tudo isto consta de um relatorio que Antonio de Sousa Pinto e o reitor João Pinto de Moraes, mandaram á academia real das sciencias; mas parece-me que isto é outra versão da historia do clerigo de Linhares, contada por Antonio Rosales de Carvalho.
    A esta penha ainda o povo chama o penedo das letras, alludindo à mencionada inscripção.

Source
PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno , Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.Tomo VIII, pp. 49-50
Place of collection
Linhares, CARRAZEDA DE ANSIÃES, BRAGANÇA
Narrative
When
17 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography