APL 2997 A Procissão dos Anjinhos

Antigamente devido a falta de recursos, muitas crianças morriam logo a nascença ou nos primeiros anos de vida.
Em Bemposta dizia-se então que aos sábados a noite, passava pela rua da Assaquia, hoje rua dos Combatentes da Grande Guerra, uma procissão destas crianças designada “A Procissão dos Anjinhos’. Nem todas as pessoas podiam ver e ouvir as crianças, pois para tal era necessário ter um dom especial.
Nesta procissão iam crianças que, ao caminhar, choravam. Faziam-no por várias razões. Umas vezes porque as mães choraram muito a sua morte e as crianças tinham de carregar uma cabacinha com as lágrimas da mãe — por isso e que a mãe, acreditava-se, não devia chorar a morte de um “anjinho”, pois quanto mais chorava, mais pesada ia a cabaça e menos o “anjinho” podia com ela e, por isso, chorava na procissão.
Uma outra razão para o choro da criança, era que a mãe, quando lhe morria o filho devia dar uma determinada ordem à roupa que lhe vestia. Mas por vezes, a mãe esquecia-se do cinto e então o “anjinho” dava uns passinhos, tropeçava no vestido e caía. Logo a seguir chorava. Depois voltava a dar mais uns passos caía de novo e voltava a chorar.
Reza a tradição que todos os sábados as pessoas de Bemposta varriam a rua da Assaquia para que os anjinhos ao passarem não tropeçassem em nada.

Source
JANA, Isilda Histórias à Lareira , Palha de Abrantes, 1997 , p.86
Year
1991
Place of collection
Bemposta, ABRANTES, SANTARÉM
Collector
Cláudia Fernandes (F)
Informant
Alice Maria Oliveira (F), 82 y.o.,
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography