APL 655 Senhora do Bom Sucesso

Travava-se porfiada guerra entre Portugal e Espanha.
As povoações fronteiriças, que de há anos viviam no labor pacífico do amanho das terras, viam novamente os seus castelos e fortalezas ocupados por milhares de soldados, e dentro de seus muros a agitação própria dos períodos de mobilização.
 Penamacor, Monsanto e Penha Garcia, passavam vida amargurada, e, angustiadas e receosas, aguardavam com impaciência o fim da luta.
 Castela era ali perto e a fronteira a poucos quilómetros!...
 Um dia, pequeno destacamento português que se alargara para lá da Baságueda em reconhecimento ou em simples passeio, teve de defrontar-se com uma coluna inimiga.
 Era grande a diferença numérica.
 Maior, muito maior, o terço do exército espanhol.
 O comandante da força portuguesa, militar brioso e crente, enquanto dispunha os seus para a luta e os exortava ao cumprimento do dever, prometia à Virgem de, ali, no próprio local, lhe erguer uma capelinha se o combate fosse de bom sucesso para si e para os seus.
 A luta foi tremenda, desigual, como se disse, e heróica.
 Portugal venceu!
 E o comandante — nome que o povo perdeu — cumpriu o seu voto.
 E, dentro em pouco, mais uma capelinha, de alpendre acolhedor, branquinha de neve, enfeitava os campos tristes de entre Baságueda e Espanha.
 E, desde então, Nossa Senhora do Bom Sucesso, pequenina e ignorada, lá está, longe de Portugal pelas dificuldades de acesso, longe de Espanha pelo facto que memora, a atestar mais um triunfo dos soldados portugueses, a testemunhar o valor da independência de um povo.
 E, por isso, Nossa Senhora do Bom Sucesso, pequenina e modesta — Santa Maria da Vitória em miniatura — com a porta principal voltada para a sua Pátria, lá está, sentinela da fronteira, injustamente esquecida e só visitada pelos romeiros no dia da sua festa e por algum lavrador ou pastor que durante o ano passa para o cultivo das terras ou para o apascentamento dos rebanhos, a erguer suas preces ao céu, a lembrar a oração que todos devemos saber rezar e que pode intitular-se:
 Por Portugal!

Source
DIAS, Jaime Lopes Contos e Lendas da Beira , Alma Azul, 2002 , p.53-54
Place of collection
Monsanto, IDANHA-A-NOVA, CASTELO BRANCO
Narrative
When
20 Century, 50s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography