APL 2751 Guimarães
Não se póde hoje dizer com certeza quaes foram os motivos, que levaram D. Afonso VII, de Leão (sobrinho de D. Thereza) a mover guerra a seu primo D. Afonso Henriques. Uns dizem que foi para despicar o seu poderosissimo vassallo, conde de Trastamara, outros que foi para obrigar o principe portuguez a reconhecer-se seu feudatario, e outros finalmente, dizem que elle veio a Portugal para livrar, pelas armas, sua tia, do supposto captiveiro; o que é certo é que elle invadiu este reino com um exercito, em som de guerra, em 1129.
D. Affonso Henriques juntou á pressa a gente que pôde e lhe foi sahir ao encontro na veiga de Val de Vez, ou da Matança, desbaratando-o completamente. O rei leonez fugiu para a Galliza, mas reunindo um poderoso exercito, tornou no mesmo anno a Portugal e veio pôr cerco a Guimarães.
Se dermos credito a varios historiadores, á tradição, e á grosseira esculptura do tumulo de D. Egas Moniz, em Paço de Sousa, este glorioso varão, aio e o maior amigo de D. Affonso Henriques, sahiu de Guimarães, como parlamentario (outros dizem que foi a occultas de D. Affonso Henriques) e foi prometter a Affonso VII, que seu pupillo compareceria nas côrtes de Toledo. O rei levanta o cerco e regressa a Leão; mas D. Affonso Henriques não esteve pelo que tratou o seu aio, pelo que este, com sua mulher e filhos (pois dizem que por si, por ella e por elles, se tinha obrigado ao cumprimento da sua palavra) se apresenta ao rei leonez «offerecendo a doce vida, em troca da palavra mal cumprida» – e o rei, vendo tanta magnanimidade, lhe perdoôu.
- Source
- PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno , Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.Tomo III, pp. 354-355
- Place of collection
- GUIMARÃES, BRAGA