APL 1925 [Francisco de Ornelas]

 Francisco de Ornelas era um cortesão muito ligado a D. João IV. Portanto estamos na Restauração de Portugal, que se deu em Lisboa; no 1º de Dezembro de 1640. Mas, é claro, que nos Açores foi mais tarde.
 Portanto, Francisco de Ornelas foi incumbido, por D. João IV, de vir aos Açores a fim de comunicar a Restauração e expulsar os castelhanos que estavam lá, sobretudo na Ilha Terceira. Eles não estiveram lá 60 anos como estiveram no continente português. Parece que datam só 57 anos porque resistimos ao príncipio e os castelhanos, os Filipes, só conseguiram tomar conta dos Açores os campos da Ilha Terceira uns anos mais tarde.
  Houve uma batalha chamada a Batalha da Salga que foi vencida com o auxílio, não de toiros mas uma grande frente de gado, numa praia onde tinham desembarcado mil e tal castelhanos [que] quando viram aquilo atiraram-se ao mar e morreram uma quantidade deles.
 Segunda vez, os castelhanos tentaram desembarcar mas já conheciam a manobra, e já sabiam, enfim, tomaram a ilha. E lá estivemos sob o jugo castelhano cerca de 57 anos enquanto que o continente esteve 60 anos.
 (Bem, mas voltamos à frente outra vez,) Francisco de Ornelas foi nomeado pelo rei D. João IV para vir aos Açores e desembarcou na Praia da Vitória. Levou tempo para expulsar os castelhanos- havia alguns 300 homens e havia mantimentos e enquanto eles tiveram mantimentos, resistiram sempre. Houve propostas para eles se entregarem e havia um D. Álvaro de Viveiros, que era o comendador do castelo, que resistiu sempre. Havia escaramuças, havia lutas, mas depois estavam cercados e resistiram. Ainda levou 2 ou 3 anos para conseguir a rendição. Depois a rendição deu-se. Foram lá uns barcos espanhóis, tomaram-nos, eles saíram do castelo com armas e bagagens (fora do normal que quando são vencidos deixam as armas, mas levaram tudo) embarcaram.
 Com isto o cargo de Francisco de Ornelas era um cargo de responsabilidade. Havia outros cargos e começou a haver invejas e ciúmes e armaram um enredo tal que foi ter aos ouvidos do rei. E Francisco de Ornelas teve de ir a Lisboa e foi julgado em tribunal.
 Enfim e estava quase a ser condenado pelas acusações que lhe fizeram. Ele era muito crente, tinha a esposa e uma filha que pediram ao Altíssimo para o proteger.
 E acontece que ao ser lavrada a sentença, entra pela janela do tribunal, uma pomba que entorna o tinteiro sobre a sentença.
 O juiz enfim, assistiu àquilo e, enfim, crêem que é um milagre que se passa. Revêm o processo e Francisco de Ornelas foi absolvido.
 Voltou outra vez para os Açores e então, mandou construir uma ermida que lá está em Angra numa ermida devotada ao Espírito Santo. 

Source
AZEVEDO, Ana A Literatura Oral na Comunidade Emigrante Portuguesa em Montreal , Universidade do Algarve, 2002 , p.# 106
Year
2001
Place of collection
Praia Da Vitória (Santa Cruz), PRAIA DA VITÓRIA, ILHA TERCEIRA (AÇORES)
Informant
Tadeu Rocha (M), 70 y.o., born at HORTA (ILHA DO FAIAL (AÇORES)),
Narrative
When
1640
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography