APL 1906 Os Piolhos da Velha

Havia uma velha que todas as noites era atormentada por um trasgo, que mexia e remexia nas louças, arrastava os móveis e fazia ranger as portas. Por isso, a pobre velha não havia meio de dormir e, todas as manhãs, se levantava da cama a queixar-se de enxaquecas e a rogar pragas aos “malditos espíritos” que dizia ter em casa.
 Um dia, com pena dela, o trasgo dispôs-se a compensá-la pelas diabruras que lhe fazia durante a noite. Vai daí, enquanto a velha passava pelas brasas na hora da sesta, resolveu ele ir catar-lhe os piolhos.
 Foi remédio santo para que a velha passasse a acordar da sesta mais aliviada. E daí em diante, como o trasgo lhe catava os piolhos durante o dia, já ela não tinha que se coçar durante a noite, e, por isso, deu em dormir sempre bem regalada, com sono de chumbo, de tal modo que já nem dava pelo rebuliço do “trasgo loiceiro” que tinha em casa.
 Desta forma passou o trasgo a ter de novo as prateleiras, os caldeiros e as gavetas às suas ordens para o forrobodó a noite inteira.

Source
PARAFITA, Alexandre Antologia de Contos Populares Vol. 1 , Plátano Editora, 2001 , p.206
Year
1990
Place of collection
VINHAIS, BRAGANÇA
Informant
Guilhermino Bernardino Fernandes (M), 70 y.o., VINHAIS (BRAGANÇA),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography