APL 1369 Noite dos diabretes na Fajã de Vasco Martins
Em tempos idos, acreditava-se que em certa noite do ano, mais precisamente na noite de dois de Fevereiro, os diabretes apareciam, fazendo as mais diversas e inesperadas diabruras e assustando as pessoas, que se costumavam fechar em casa e fugiam nessa noite da costa como o diabo foge da cruz.
Ora, no lugar do Toledo, havia um grupo de homens que se julgavam mais corajosos que os outros e resolveram enfrentar os diabretes.
Combinaram o que iam fazer e escolheram o lugar. Chegado o dia, dirigiram-se para a Fajã de Vasco Martins, armados de paus, e foram pescando, pela noite adiante, sempre à espera que os diabretes fizessem das suas. O tempo foi passando, até que chegou a meia-noite, sem nada acontecer Regressaram a uma casa lá na Fajã, sentaram-se a conversar e a rir, sempre armados, cada um com um pau e um foicinho.
De repente começaram a ouvir uma grande barulheira: parecia que as telhas estavam a partir-se, outras a ser arrastadas; ouvia-se pancadas fortes nas portas e janelas. O barulho era tão grande que parecia o fim do mundo e os homens, que se achavam muito destemidos, começaram a tremer de medo e não se arriscaram a ir sequer à porta para ver o que se estava a passar.
Ali ficaram o resto da noite, aconchegados num canto, disfarçando como podiam o medo, e só quando o barulho parou e a manhã clareou é que tiveram coragem de sair para ver o que tinha acontecido.
Qual não foi o seu espanto quando olharam para o telhado e viram que nem uma telha estava partida nem fora da sua carreira e nas portas não havia sinal de pancadas.
A novidade espalhou-se e daí em diante as pessoas do Toledo nunca mais gostaram de brincar ou gozar com os diabretes.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.206-207
- Place of collection
- Calheta, CALHETA DE SÃO JORGE, ILHA DE SÃO JORGE (AÇORES)