APL 1270 A Ribeira da Mulher
Há mais de quatro séculos, um homem casado e sério que vivia na Povoação teve que ir à Santa Maria por qualquer razão da sua vida.
Aí conheceu uma mulher e apaixonaram-se. Mesmo sabendo que esse sentimento entre eles era impossível perante Deus e os homens, o amor foi crescendo. O homem teve que voltar à sua terra, mas a mulher da ilha de Santa Maria, levada pelo amor e sem pensar nas consequências, veio atrás dele até à Povoação.
Ao saberem deste caso amoroso, os familiares e a população em geral levantaram-se cheios de ódio contra esse amor indigno. Começaram a ameaçar o homem e mulher de morte e estes, ao sentirem que não podiam continuar ali, resolveram fugir.
Caminharam. Passaram pela Achada do Nordeste, subiram montes, desceram grotas. Alimentaram-se durante algum tempo de amoras, romania e outros frutos do mato e também mariscos apanhados no calhau.
Chegaram por fim ao Nordeste e o sofrimento causado por aquele amor era cada vez maior. Tomando consciência de que a vida assim era impossível, a mulher redobrou de tristeza e chorou tanto, tanto que se desfez em água, formando-se uma ribeira. O homem, não se podendo separar daquela por quem tinha perdido família e honra, atirou-se à ribeira e afogou-se nela, ficando para sempre unido à infeliz amada.
Passou a chamar-se àquela corrente de água, resultante de uma trágica história de amor, Ribeira da Mulher.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.94
- Place of collection
- Povoação, POVOAÇÃO, ILHA DE SÃO MIGUEL (AÇORES)