APL 3746 A moura, o pássaro e a cobra

Havia uma moura, muito bela e bondosa, que era pretendida por todos os jovens da moirama. Porém só de um gostava a valer. Entretanto, seu pai, um homem feroz e ambicioso, queria obrigá-la a casar com um mouro muito rico, embora de idade avançada. Vai daí, contra a vontade da filha marcou o dia do casamento.
    Ora, como a jovem só tinha olhos para aquele por quem se apaixonara, contou-lhe as intenções do pai e, desde logo, os dois planearam fugir. Só que o pai descobriu os planos de fuga dos dois, e, perante isso, resolveu apressar a data do casamento.
    — Vais casar-te amanhã mesmo! — disse-lhe.
    A moça, como não tinha possibilidades de avisar o rapaz de quem gostava, resolveu livrar-se de tal casamento fugindo de casa nessa mesma noite. E atrás dela correram logo seu pai e vários criados.
    Ao amanhecer, já a jovem tinha chegado a um lugar chamado Cavadas, que fica entre Galegos e Ludares, no concelho de Vila Real. Mas os perseguidores estavam já prestes a alcançá-la. Foi então que a jovem avistou um grande pássaro, e, pensando que ele a poderia levar para longe, correu na sua direcção com quantas forças lhe restavam. Só que ao chegar perto viu que se tratava dum simples penedo. Um penedo que tinha, de facto, as formas de um grande pássaro.
    Ficou então muito aflita. E como os seus perseguidores montavam bons cavalos e já se encontravam próximo de si, a moura escondeu-se entre os carrapiços e o panasco do monte, bem juntinho do penedo. E disse para o penedo:
    — Serias a minha salvação se fosses um pássaro verdadeiro!...
    Nisto os perseguidores estavam já junto ao penedo, a procurar em todos os esconderijos que havia. E eis que se ouve então um silvo de cobra a cortar os ares. Os perseguidores olharam e viram, de facto, a cabeça de uma enorme cobra pronta a saltar-lhes em cima. E foi de tal ordem o susto que apanharam que deitaram a fugir para trás, desistindo da perseguição. Depois a jovem encontrou-se com o seu amado e foram felizes para sempre.
    No mesmo local é possível ver um grande penedo que de um lado parece um grande pássaro e do outro parece a cabeça de uma cobra também muito grande. O povo chama-lhe o “penedo da moura”.

Source
PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros , Gailivro, 2006 , p.362-363
Year
2000
Place of collection
Vale De Nogueiras, VILA REAL, VILA REAL
Informant
Maria Elisabete Lopes (F), 45 y.o.,
Narrative
When
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography