APL 934 Santa marta de penaguião
Santa Marta de Penaguião, hoje Concelho do Distrito de Vila Real, foi, segundo diz a lenda, invadida e dominada pelos sarracenos, os quais, para consolidarem a sua permanência, construíram um castelo, lá no alto da encosta, agora coberta de cepas e de oliveiras, mas, nessa altura, cheia de espessos matagais.
Dali, podiam facilmente defender-se de possíveis tentativas para os desalojar e, ao mesmo tempo, vigiar os habitantes das aldeias em redor.
A posição quase inacessível do castelo e a força poderosa dos seus ocupantes mantinham os autóctones em forçada submissão e tiravam-lhe a veleidade de esboçar qualquer gesto de revolta.
Além disso, faltava-lhes um chefe capaz de aproveitar o seu descontentamento e de aglutinar as energias dispersas, para conseguir pôr fim ao domínio odioso dos invasores.
Por isso, os suportavam, embora interiormente revoltados, esperando pacientemente o dia em que ele surgisse e desse corpo ao seu sonho de, liberdade.
E esse dia chegou com o aparecimento de dois intrépidos fidalgos, irmãos no sangue e no valor, que ali se fixaram, vindos não se sabe donde, e se mostraram decididos a chefiar a revolta contra os indesejáveis filhos de Maomé.
Eram eles D. Telo e D. Rausendo, homens de antes quebrar que torcer, que punham o amor à terra acima do amor à vida e o pundonor acima do egoísmo.
Inconformados com aquela situação desonrosa, depois de auscultarem a vontade popular, conceberam um plano astucioso, para o assalto ao castelo.
Escolheram os mais audazes, distribuíram-lhes armas, deram-lhes as instruções necessárias e marcaram o dia do combate.
Quando esse dia chegou, juntaram-se na capela onde estava a imagem de Santa Marta de quem eram muito devotos. Aí, suplicaram-lhe protecção para aquela empresa santa, mas arriscada, e comprometeram-se a dar o seu nome àquela região se os ajudasse a alcançar a vitória contra os infiéis.
Depois, fizeram as últimas recomendações e, ao anoitecer, começaram a caminhar em direcção ao castelo, em rigoroso silêncio, protegidos pela escuridão.
Chegados ao alto, esperaram que as sentinelas adormecessem e, quando sentinelas e soldados descansavam tranquilamente nos braços de Morfeu, D. Telo e D. Rausendo destacaram-se do grupo e avançaram para a fortaleza.
D. Telo atirou uma corda às ameias junto das portas, enquanto D. Rausendo lançava outra às ameias junto da torre de menagem. Depois de escalarem a muralha, o primeiro desceu pela corda para o interior e abriu as portas de par em par, ao mesmo tempo que o segundo subia à torre onde içou o guião que levava consigo.
Depois, quebrou o silêncio da noite, gritando com toda a força: Pena! Guião!
Era a senha pré-estabelecida que queria dizer: bandeira no castelo.
A estas palavras, os companheiros, que estavam próximos, irromperam como um furacão pelas portas escancaradas e esmagaram rapidamente os sarracenos que não tiveram tempo de esboçar qualquer resistência.
Era o fim da tirania dos muçulmanos e o princípio da liberdade dos cristãos.
Então, para cumprirem a promessa feita à sua Padroeira, deram, por aclamação unânime, às terras de toda aquela região o nome de terras de Santa Marta e acrescentaram-lhe as palavras da senha: Pena Guião.
E foi assim que nasceu o nome completo, que ainda permanece: Santa Marta de Penaguião.
- Source
- FERREIRA, Joaquim Alves Lendas e Contos Infantis , Edição do Autor, 1999 , p.131-132
- Place of collection
- Louredo, SANTA MARTA DE PENAGUIÃO, VILA REAL