APL 926 Provesende
Provesende é uma povoação muito antiga, pertencente ao Concelho de Sabrosa e ao Distrito de Vila Real.
Segundo a tradição, não foi este o seu nome primitivo, pois o nome que agora tem só lhe foi dado muito mais tarde, pela razão que a lenda vai explicar.
Abro aqui um parêntese, para apresentar a opinião dum douto filólogo que defende a sua origem da palavra latina proficiscendi, gerúndio do verbo proficiscor que significa partir, cuja evolução, ditada pela lei do menor esforço, a regra de ouro do falar do povo, deu origem à forma actual. Será? Não será?
Fecho o parêntese.
Mas a gente da terra dá uma explicação mais simples, através da lenda que criou para o efeito. Vamos então dar a palavra ao povo.
Em tempos que já lá vão, havia um castelo no alto de S. Domingos que fica perto da dita povoação. Esse castelo estava na posse dos mouros, que dominavam uma vasta região, na qual estava incluída a aldeia de Provesende.
Ora os seus habitantes nunca viram com bons olhos o domínio dos muçulmanos, embora as relações mútuas não fossem muito hostis, ao contrário do que acontecia noutros lugares.
Por isso, sempre acalentaram o sonho de se verem livres deles. Mas a realização desse sonho não era fácil, porque o inimigo era de respeito. Tinha muitos soldados, muito bem armados, e uma fortaleza praticamente inexpugnável, donde podiam vigiar todos os movimentos suspeitos.
Mas, um dia, perderam o medo, juntaram-se todos e planearam uma ofensiva ao reduto muçulmano, aguardando apenas uma ocasião propícia para a porem em prática.
Por unanimidade, escolheram o dia de S. Miguel Arcanjo, que derrotou no céu os espíritos rebeldes, tomando-o como seu protector na luta contra os inimigos da cristandade.
Quando esse dia chegou, logo pela manhã, armaram-se como puderam, deram os últimos retoques ao plano do ataque, distribuíram as actividades de cada um e esperaram pela noite.
Ao lusco-fusco, saíram em pequenos grupos, para não levantarem suspeitas, e foram-se juntar nas faldas do monte, onde se situava o castelo.
Aí, quedaram-se, escondidos nas giestas, a observar as sentinelas. E, quando se aperceberam de que elas já estavam a dormir, avançaram, sem fazer qualquer ruído que pudesse despertá-las, para o assalto vitorioso.
Subindo cautelosamente e ajudados pelo Arcanjo S. Miguel, seu protector, conseguiram apanhar de surpresa os soldados de vigia, que estavam ainda mergulhados no primeiro sono.
E, sem tir-te nem guar-te, amordaçaram-nos, tiraram-lhes as armas e, com elas, escalaram as muralhas, entraram na fortaleza e mataram os mouros que não puderam fugir.
Entre os que conseguiram escapar-se, contava-se o rei mouro, chamado Zende, que, vendo o seu exército dizimado, procurou salvar-se, montado no seu fogoso cavalo.
Mas, por pouca sorte, o alazão que o transportava foi ter ao lugar chamado Valverde, que era um perigoso lamaçal, atolou-se até ao cimo das pernas e ficou paralisado.
E ao rei mouro, que procurou fugir a pé, sucedeu o mesmo.
Então, os seus perseguidores alcançaram-no e mataram-no à pancada.
Vendo-o assim morto naquelas circunstâncias tão trágicas, um dos que lhe deram a morte exclamou, com pena dele:
- Pobre Zende!
As pessoas da terra acharam o dito adequado para perpetuar a vitória sobre os mouros. Vai daí, começaram a aplicá-lo à sua povoação, chamando-lhe Pobrezende.
Depois, por antecipação do “r” e mudança do “b”, o topónimo evoluiu para a forma actual: Provesende.
- Source
- FERREIRA, Joaquim Alves Lendas e Contos Infantis , Edição do Autor, 1999 , p.97-98
- Place of collection
- Provesende, SABROSA, VILA REAL