APL 667 Pinheiro de Luzes
O Infante D. Luis, filho de el-rei D. Manuel I e pai de D. António, Prior do Crato, edificou nas faldas da Serra da Estrela, a montante de Covilhã, uma capelinha sob a invocação da Nossa Senhora da Vera Cruz (Santa Cruz).
Modesta em sua construção, mas graciosamente decorada, o seu fundador dotou-a com uma bela custódia de prata dourada e uma preciosa relíquia do Santo Lenho.
E porque a custódia era reluzente e muito bem imitava ouro, os ladrões roubaram-na por duas vezes (1).
Por este motivo, a irmandade resolveu confiar a sua guarda ao pároco de Santa Maria Maior, e à Confraria do Santíssimo, erecta nesta freguesia, visto que assim estaria mais segura.
Não sucedeu porém como calculava!
Fascinados pelo resplendor da custódia, os ladrões voltaram a roubá-la.
E, alta noite, por veredas e caminhos escusos, persuadidos de que ninguém os vira ou pressentira, seguiram em cata de lugar seguro que lhes garantisse a posse do que supunham valioso tesouro.
Mas, eis senão quando, andados poucos quilómetros, próximo do Teixoso, reconheceram que alguém lhes ia no encalço.
Rapidamente, sem que os perseguidores o tivessem notado, esconderam a custódia entre os pequenos arbustos que cresciam junto a um frondoso pinheiro, e fugiram.
— Onde está a custódia? Onde não estará a custódia? Todos perguntavam, mas ninguém sabia responder. E quando, ansiosamente, tantos a procuravam e aventavam as mais variadas hipóteses, viu-se que sobre a igreja de Santa Maria Maior se projectava uma luz brilhante como a do Sol.
Procurada a razão de tão estranho fenómeno, veio a descobrir-se que ele tinha origem na relíquia engastada na custódia escondida junto do pinheiro.
Vieram então os habitantes da Covilhã em grande e luzida procissão buscar o religioso tesouro, passando a realizar todos os anos uma festa especialmente dedicada a comemorar o milagre.
Ainda hoje, pessoas devotas da laboriosa cidade rezam suas orações ao Santo Lenho da Vera Cruz de face voltada para o sitio que, desde então, passou a chamar-se do Pinheiro de Luzes (2)
(1) Artur de Moura Quintela — Subsídios para a Monografia da Covilhã, pág. 131.
(2) Ao facto base destas lendas se refere na «Cronica da H. Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na província de Portugal» Frei Manuel da Esperança. Ano 1656, Livro IV.
- Source
- DIAS, Jaime Lopes Contos e Lendas da Beira , Alma Azul, 2002 , p.86-87
- Place of collection
- COVILHÃ, CASTELO BRANCO