APL 143 Lenda da moura da serra da pedra da maia

Ali, entre a Ribeira de Cima e a Ribeira de Baixo, na freguesia do Sátão, rodeada pelas povoações das Pedrosas, Pedrosinha, Pereiro, Vila Cova, Samorim, Muxós, Avelosa e Contige, destaca-se uma pequena serra a que chamam Serra da Pedra da Maia, e que separa as àguas que correm para o rio Vouga das que fluem para o Mondego.
 Actualmente, está completamente florestada. Mas, noutros tempos, ainda não muito recuados, era terreno baldio, onde não havia vegetação e onde retouçavam rebanhos de ovelhas e de cabras, então um dos sustentáculos da economia dos povos em redor.
 E no cimo dessa serra, bonito miradouro, erguia-se uma grande pedra, de seixo branco, que se descortinava de perto e de muito longe. Era a Pedra da Maia, nome que emprestou à serra que coroava, o seu nome completo: Serra da Pedra da Maia, que ainda hoje se conversa.
 Ora diziam os antigos que ali estava escondida uma moira encantada, que, por artes mágicas (Maga-Maia), lá se escondem quando os Moiros, pela última vez, se retiraram para não voltarem.
 Só os cavaleiros podiam fugir dos cristãos. Os outros, que os não puderam acompanhar na retirada, veloz ou precipitada, ficaram para servos da gleba, ou então, esconderam-se, com os seus tesouros, na esperança de os seus correligionários um dia poderem regressar e os restituirem à liberdade e à posse dos seus haveres.
 Ficou assim a tradição dos tesouros escondidos, a enfeitiçar cabeços como outros “Outeirinhos das Pombas”.
 Jovens donzelas, formosas e enamoradas, criaram a lenda das moiras encantadas.
 De manhã, diziam, ao nascer do sol, ela lá estava, na sua varanda da Pedra da Maia, a pentear-se todos os dias, à beira do grande penedo. Mas, se iam espreitá-la, logo se sumia e como se volatizava pelas suas artes mágicas. E de noite, ao luar, dizia canções orientais, que, em surdina, a aragem trazia e o silêncio nocturno para longe transportava.
 A Pedra da Maia guardou, por muitos séculos, este sortilégio sobre os campos das Pedrosas e da Ribeira.
 Mas, um dia, um proprietário, insensível a estas coisas e talvez na mira de encontrar tesouros, com uma carga de dinamite estroncou a grande pedra, dizem que para fazer uma eira. Se algumas calçadas falassem...
 A pedra foi destruída pela insensatez dos homens. Mas a lenda essa ficou. E ainda hoje, haverá crianças que, ao acordarem, são capazes de olhar lá para cima, a ver se conseguem surpreender a moira a pentear os seus lindos cabelos, na varanda da Serra da Pedra da Maia.

Source
SOUSA, Albano Martins de Terras do Concelho de Sátão , Câmara Municipal do Concelho de Sátão, 1991 , p.344-345
Place of collection
SÁTÃO, VISEU
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography