APL 419 Lenda da Fundação de Estremoz

No tempo de el-rei D. Afonso III cometeram os moradores de Castelo Branco um atroz delito e desejando el-rei informar-se do caso mandou para este fim um ministro àquela vila, porém os seus moradores não só não consentiram na devassa mas antes agravaram mais a primeira culpa com o horrível atentado de quererem matar o ministro. Porém este, valendo-se das regras da prudência em semelhantes casos suspendeu a diligência e passou à corte para informar a el-rei o que lhe havia sucedido.
 O príncipe, justamente irritado, ordenou ao mesmo ministro que, com muita gente armada, fosse à dita vila e que sem atenção a idade ou sexo passassem a todos pelo fio da espada.
 Partiu o ministro em tempo em que determinava dar cumprimento ao real decreto. Viu que os moradores com uma devota procissão em que levavam o Santíssimo Sacramento, imploravam com muitas lágrimas a clemência de el-rei. Este piedoso acto enterneceu o coração do ministro que suspendeu o castigo e deu conta de tudo a el-rei.
 Este monarca, movido de uma natural compaixão, moderou o castigo, ordenando ao ministro que fizesse morrer todos os irracionais da vila e que os moradores dela fossem degradados e que a vila ficasse desabitada em pena da infame rebeldia dos seus moradores. O que tudo se executou.
 Algumas destas famílias erraram de província em província até que foram dar ao derrotado castelo de Estremoz, onde junto dum copado e alto tremoceiro fundaram as primeiras casas e rua Direita e, no fim desta, a paroquial igreja de Sant’Iago, a mais antiga de Estremoz.
 Passados alguns anos, vendo que a povoação tinha já bastante número de moradores, deputaram dois para que, em nome de todos, fossem pedir a el-rei D. Afonso III que lhe desse o foral da vila, o que el-rei deferiu perguntando-lhes que armas queriam para a vila e qual havia de ser o nome da nova povoação,
ao que eles responderam que não tendo encontrado mais do que o sol, luz e estrelas que os cobrissem, e o tremoceiro ao pé do qual fundaram as primeiras casas, que estas queriam fossem as suas armas, e que por esta causa última queriam que a povoação se chamasse Estremoz.
 Tudo el-rei lhes concedeu.

Source
S/A, . Lendas e Outras Histórias , Escola Porfissional da Região Alentejo / Núcleo de Dinamização Cultural de Estremoz, 1995 , p.17-19
Place of collection
Estremoz (Santa Maria), ESTREMOZ, ÉVORA
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography