APL 127 Lenda da Cidade de Olhão
Há muito, muito tempo viviam duas moitas em Olhão e à noite as sete Luas, na voz da maresia, vinham dizer-lhes canções e os seus corações choravam. E quando esse choro nascia, o lago doce da ria ficava, aos poucos, salgado. Toda a natureza se entristecia e enternecia com o choro das donzelas e até o sete-estrelo e as fontes choravam. Lindas, jovens e loiras choravam quando tinham só nascido para amar...Por isso, diz a tenda que aos olhos de quem passava se deram por cristãs... Passando os dias num castelo dourado, transformado em noite eterna pelo sofrimento, este tempo mudou numa manhã ao som de um rouxinol que apareceu com a gente cristã Os infantes guerreiros, de abastada comitiva, eram homens temerosos que pelejando deixavam os árabes a si sujeitos. Dois irmãos, infantes e os mais belos e cristãos do reino de Portugal nos pequenos corações das nobres ismaelitas mouras cedo despontaram monções de algum temporal desfeito e logo se levantaram as rosas, os cravos e os rouxinóis a cantar notas maravilhosas. A beleza e a alegria das raparigas irradiavam brilho tal que as filhas do deserto incendiaram logo de paixão os irmãos cristãos, pelo que decorrido um só momento se uniram pelo casamento.
Mas à voz alta do Amor sucedeu o vozeirão portentoso de Allah, o deus da guerra que repreende, vocifera e castiga. Todos encantados, eles em dois olhos de água fundos e elas metidas nesses olhos sempre com a cabeça de fora, assim transformados de ora em diante, sofriam sem já notar a hora do dia. De longe, o povo todo dizia: “Olhem pois, como elas olham!.., e o eco além repetia “Elas olham...olham...olham... e o lugar ficou chamado por aquele nome de “Olham”.
- Source
- AA. VV., - Lendas e Gastronomia Olhanenses , Ensino Recorrente e Educação Extra-Escolar / Coord. Concelhia de Olhão, 2002 , p.3
- Place of collection
- OLHÃO, FARO