APL 1480 Alcobaça
Um caldeirão de proporções gigantescas foi tomado aos castelhanos na batalha de Aljubarrota, constituindo, a partir daí, um dos símbolos de Alcobaça. Foi roubado alguns séculos depois.
N’este convento existiu 449 annos o celeberrimo caldeirão (chamado, por isso, de Alcobaça) tomado em 14 de agosto de 1385 a D. João I, de Castella, na gloriosissima batalha de Aljubarrota, por Goncalo Rodrigues, que por isso se ficou appellidando, desde então, Caldeira. (Diz-se que no tal caldeirão, que era de cobre, se podiam cozer quatro bois de cada vez!)
O tal caldeirão, com dois mais pequenos (todos tomados aos castelhanos em Aljubarrota) foram dados ao convento por D. João I.
Um dos mais pequenos foi mandado por os frades para o seu lagar de azeite da Fervença (limites de Alcobaça) e hoje pertence á D. Francisca Jacintha Pereira. O outro dos mais pequenos, foi collocado por os frades, no forno. Este foi ha pouco mudado para a casa chamada dos Reis, para lhe não acontecer como ao grande.
O maior era de metal muito mais fino e estava no claustro, para poder ser visto facilmente. Batendo-se-lhe com uma pedra o som cobria o repique de todos os sinos. Era de tão extraordinaria grandeza, que, quando servia na cosinha do rei de Castella, faziam n’elle comida (a que chamavam badulaque) que chegava para 293 pessoas. Na pedra onde estava assente, em Alcobaça, está a seguinte inscripção:
HIC EST ILLE LEBES, TOTÓ CANTATUS IN ORBE,
QUEM LUSITANI, DURO, GENS ÁSPERA, BELLO,
DE CASTELLANIS SPOLIUM MEMORABILE CASTRIS,
ERIPUERE: CIBUS HIC OLIN COXERAT HOSTIS;
AT NUNC EST NOSTRI TERTIS SINE FINE TRIUMPHI
Lá está ainda a inscripção, e é o que apenas existe do caldeirão!
Não sei quem fez então a seguinte quadra, que andou muito em voga.
No anno de trinta e quatro,
Lá se foi o Caldeirão!
Só nos ficou por memoria,
Um visconde… e a inscripção.
Se Gonçalo Rodrigues ganhou o appellido de Caldeira, por tomar aos hespanhoes o caldeirão; tambem um nosso contemporaneo (hoje titular!!!) ganhou o appellido de Caldeirão de Alcobaça por conquistar o pobre caldeirão em 1834!
Escapou este testemunho das nossas glorias, aos surripiantes Filippes, aos rapinantes francezes e a outros que taes, e não escapou á ignobil voracidade de um portuguez!… Merecia bem que lhe pozessemos aqui o nome por inteiro, para ser conhecido da posteridade; mas… deixai-o.
- Source
- PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno , Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.tomo I, p. 74
- Place of collection
- Alcobaça, ALCOBAÇA, LEIRIA