APL 3558 O bruxo e a moura
No cabeço de S. Bartolomeu, em Bragança, deu-se uma grande batalha com os mouros, quando estes iam a abandonar estas terras a caminho do norte de África. Conta-se que ia então um rei mouro com a sua comitiva e que levava grandes tesouros. E com ele ia também a sua filha, uma jovem muito bela.
Quando os mouros avistaram os inimigos, o rei escondeu os tesouros em local que só ele conhecia, e preparou-se para a luta. Só que os inimigos eram muitos, pelo que os mouros acabaram por ser derrotados e muitos deles mortos. O rei foi um dos que morreu, mas antes confessou a sua filha onde escondera os tesouros.
Quando os inimigos capturaram a jovem e os mouros que sobreviveram, o chefe dos vencedores dirigiu-se à princesa dizendo:
— Serás livre se nos disseres onde estão os tesouros.
E a jovem respondeu-lhe:
— Podes fazer de mim o que quiseres, mas o segredo de meu pai não o terás.
— Se assim é, ficarás aqui prisioneira para sempre — sentenciou o chefe.
Palavras tais não era ditas, ouve-se então um grito medonho, que a todos assustou, dizendo:
— Prisioneira?! Nunca!
Era um bruxo que saiu de entre os mouros cativos, e lançou sobre a princesa uma tal bruxaria que ela se transformou de repente numa asquerosa serpente. E perante os olhos espantados de todos, a serpente escapou-se por entre as fragas e desapareceu.
Tanto o bruxo como os mouros foram encerrados nas masmorras, onde apodreceram. Quanto à princesa diz-se que ainda por lá anda, encantada.
- Source
- PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros , Gailivro, 2006 , p.2000
- Year
- 2000
- Place of collection
- BRAGANÇA, BRAGANÇA
- Informant
- Ana Maria Amaral Faria (F), 36 y.o.,