APL 1580 Tavira

No tempo dos árabes era Tavila ou Tavira uma importante vila. Por algumas vezes tentaram os mouros da potente vila destruir por completo o pequeno exército de D. Paio, mas encontraram sempre resistência nas armas empunhadas por aqueles bravos cristãos.
 Na ocasião em que vou começar a fazer a história de Tavira, no tocante à origem das lendas que ali correm, descansavam as armas por virtude de umas tréguas pedidas aos cristãos pelos mouros.
 Exprime-se assim um velho cronista:
 «...os mouros de Tavira e dos outros lugares ao redor ouviram seu acordo e disseram entre si: nós somos já acerca do mês de Julho em que havemos pasnhar nossos pães e mais vem-se chegando o tempo do pellacil e pois que assim somos maltratados do mestre façamos com ele tréguas até são Miguel de Setembro que vem e apanharemos então nossas novidades e depois guerrearemos com eles até que os deitemos fora da terra.»
 Feita esta proposta ao mestre D. Paio, este a aceitou. Sucedeu, porém, que cinco cavaleiros do Mestre resolveram ir caçar ao sítio das Antas, tendo de passar armados pela vila. Quando os mouros isso presenciaram, levaram muito a mal, dizendo que: «nenhum homem nascido podia sofrer as coisas e soberbas que esses cristãos fazem que assim passaram por aqui e foram pela praça como se a vila fôra já sua e logo fizeram sua fala que se fosse a eles e os matassem onde quer que os achassem”.
 E efectivamente juntaram-se os mouros e foram com grande sanha e palavras soberbas ao sítio das Antas, onde em luta muito desigual, mataram os cinco caçadores, o seu comendador-mór, e um mercador que foi em seu auxílio.
 Avisado D. Paio, que se achava em Cacela, da vil traição dos sarracenos, pôs-se à frente de um punhado de heróis e correu em auxílio dos seus amigos. Encontrou-os mortos. Então possuído de desejo de vingança caiu como um raio sobre a vila e tomou o seu castelo.
 Escreve o citado cronista:
 «...e os cristãos deram com eles, e o Mestre entrou com eles de volta e cobrou a vila e apoderou-se dela e foi estranha a mortandade que o Mestre os seus fizeram em os mouros e também nos da vila.»
 Tomada a vila e o seu castelo, fez o Mestre transportar os mártires das Antas para a vila e colocou-os na Igreja de Santa Maria, mandando ali fazer um monumento em que pôs sete escudos com, as vieiras de São Tiago.
 Ainda existem no mesmo lugar os restos dos sete mártires que, no dizer do citado cronista, se chamavam D. Pedro Paes, comendador-mór, Mem do Vale, Dainião Vaz, Álvaro Carda, Estevão Vaz, Valério de Ossa e o mercador Carda Rodrigues.
 Até aqui fala a história.
 A lenda, porém afirma que enquanto nas Antas se feria um rude combate e D. Paio em vingança atacava rudemente o castelo da vila, duas tristes cenas se exibiam em dois lugares diferentes, cenas que existem perpetuadas pela tradição e que hão-de continuar a existir na memória do povo, por séculos sem fim.
 Uma destas cenas teve por teatro o Poço de Vaz Varela e por plateia as aves do céu e os arroios serpeando pela terra; e outra desenvolveu-se em ponto mais elevado, entre o céu e a terra, no castelo da vila.

Source
OLIVEIRA, Francisco Xavier d'Ataíde As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve , Notícias de Loulé, 1996 [1898] , p.181-182
Place of collection
TAVIRA, FARO
Narrative
When
8 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography