APL 2268 O Penedo do Picoto de São João
No penedo do picoto de S. João, dizem haver uma estrada debaixo do chão, e esta vem ter ao Rio Douro, onde caiu um indivíduo que andava a nadar e mergulhou. Caindo por uma frecha dos penedos foi ter à tal estrada, mas como aquele sítio fosse escuro, pelo motivo de não receber a luz do Sol, seguiu a dita estrada, caminhando até próximo dos limites do penedo de S. João, aonde encontrou umas moiras e estas lhe perguntaram:
— Qual o motivo que vos aqui trouxe?
Ele respondeu:
— Andando a nadar, mergulhei e caí por entre umas frechas duns penedos e vim ter a esta estrada e, não tendo luz para tornar a subir, caminhei por aqui.
E elas responderam:
— Estás bem arranjado! Quando eles vierem, hão-de te matar; esconde-te para aí que eles [mouros] estão para Lamego.
Mais tarde chegaram os tais mouros e elas puseram-lhes de comer e, quando comiam, disseram-lhes:
— Aqui cheira a sangue vivo.
Elas disseram:
— Qual o quê, aqui não cheira nada!
No outro dia, passado meio dia, elas vieram com o tal indivíduo impô-lo até às águas do Rio Douro e já dava o sol pela frecha abaixo e elas disseram:
— Vai-te embora e não descubras este segredo.
E ele veio para casa e perguntaram-lhe
— Então, que andaste a fazer?
— Fui nadar ao Douro e aconteceu eu mergulhar, e por entre umas rochas saí à estrada dos moiros e, não tendo luz para subir para cima, segui a estrada e fui ter com umas moiras e elas me disseram que me retirasse senão que os moiros me matavam ou que me arrumasse por ali, porque só no dia seguinte ao meio-dia é que poderia sair.
O homem só durou 3 dias, porque revelou este segredo.
- Source
- VASCONCELLOS, J. Leite de Contos Populares e Lendas II , por ordem da universidade, 1966 , p.754-755
- Year
- 1904
- Place of collection
- Santa Cruz Do Douro, BAIÃO, PORTO
- Informant
- José Augusto Magalhães Oliveira (M),