APL 2937 A Pedra da Moura

Em tempos remotos os mouros do Cabril quiseram construir uma ponte. Depois de muita discussão sobre o local onde esta seria feita, lá chegaram à conclusão que a mesma se ergueria a meio da encosta. E então que uma moura ainda jovem se oferece para levar a primeira pedra para o início da ponte. O chefe mouro, respondeu irónico:
— Só se for a pedra grande que está no alto do Picoto...
— Pois amanhã ela estará lá — disse a jovem desconhecida.
Na manhã seguinte, quando os sarracenos saíram das suas cavernas, ficaram boquiabertos de espanto. O grande rochedo lá estava na outra encosta. Todos se interrogavam como tal feito tinha sido possível.
Apresentou-se de novo a jovem moura, agora mais linda e ricamente vestida. Ao seu lado, um jovem esbelto. Diz a moura:
— Eu a transportei para cumprir o meu fado.
E o jovem confirmou:
— Ela a trouxe à cabeça, com uma criança ao colo e na mão uma roca, na outra mão um fuso a fiar um velo de ouro. No escuro da noite eu lhe alumiei os passos com um facho, para não tropeçar. Do velo de ouro tecerá uma saia que ficará guardada na serra; o resto do novelo foi deixado debaixo da pedra para testemunhar este facto. A saia ficará até que um dia um inimigo de Alá a encontre e consiga desencantar esta linda princesa, por quem estou apaixonado e sobre a qual pesa o pesado fado de ficar presa nas entranhas da terra, por ter discordado da guerra entre mouros e cristãos. Agora compete-vos concluir a ponte na noite que vem.
No mesmo instante envolveu-os uma névoa densa e ninguém mais os viu.
Os mouros nunca mais construíram a ponte, mas a Pedra da Moura lá ficou a meio da encosta, a testemunhar o sucedido.

Source
JANA, Isilda Histórias à Lareira , Palha de Abrantes, 1997 , p.14
Place of collection
ABRANTES, SANTARÉM
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography