APL 3453 Vagos
Vou contar um facto, que tem todos os visos de milagre – se o não é.
Em outubro de 1875, estavam as terras d’entre o Vouga e o Mondego extremamente sêccas, porque havia alguns mezes que não tinha chovido.
Os povos de Cantanhede e limitrophes, decidiram vir em romaria á Senhora de Vagos, e implorar-lhe a sua protecção para que Deus mandasse a desejada chuva. Em 11 do referido mez, pois, sahiu de Cantanhede uma devota procissão de penitencia, composta de mais de l:200 fieis, que desde a sahida da egreja da sua terra até ao templo da Virgem, foram cantando a ladainha de Nossa Senhora. Chegados ao sanctuario e depois de darem trez voltas em volta d’elle, entraram na egreja e com a maior devoção imploraram o patrocinio da sua padroeira, havendo um compungente sermão e uma ladainha.
Os incredulos, podem rir-se, mas o que é certissimo, é que o tempo principiou logo a enevoar-se, e que, quando os romeiros chegaram a Cantanhêde, hiam alagados, por terem feito a maior parte da jornada debaixo de uma chuva torrencial.
Acaso! dirão os atheus ; mas nós, que cremos em Deus, dizemos de lodo o coração – PROVIDENCIA!
Mais alguns d’estes acasos, acontecidos modernamente, e que não são contados por frei Bernardo de Brito, mas presenciados por centenares de pessoas, tenho narrado em varias partes d’esta obra.
- Source
- PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno , Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.Tomo X, p. 32
- Place of collection
- Vagos, VAGOS, AVEIRO