APL 1879 [Os Bois Trocados]
E nas Flores, vocemecê pode perguntá, toda a gente sab’isto. Não, não é do nosso tempo, mas é daqueles outros.
Havia um homem que tinha uma grande junta de bois. Era das Lajes, e veio a Santa Cruz pagá coisas às Finanças. Veio a Santa Cruz e viu um outro c’uma junta de bois, um maior e outro muito mais pequeno, mas a lavrar terra. Muito bem ensinados. Aquilo d’iam direitos que tinha que ver.
E vai esse home e ele disse:
- Ó senhor! Home, o senhor havera trocar. É tenho uma junta de bois. O senhor havera trocar os bois comigo. Os meus é grandes, mas nã lavram como os seus. Nem por lá perto.
E ele disse:
- Ó senhor, estes bois ‘tão prometidos pra serem mortos pà Espírito Santo. É pè’ Espírito Santo.
E ele disse:
- Ó senhor, mas os meus quantas arrobas nã têm a mais do qu’estes? Pois não é nada?
E ele disse:
- Ó senhor, espere lá.
Parou os bois. Ele disse:
- Eu vou falá com fulano aí fora.
Larga-se:
- Home, olha, aquel’ homem diz que tem uma grande junta de bois. Pesa mais umas quantas arrobas do qu’os meus e ele engraçou muito no lavrar dos bois. Diz que trocava.
Eles disseram:
- Home, pois a gente quer é carne. Pois, já se sabe qu’é trocar.
Ele disse:
- Home, a gente troca os bois.
Bom, trocam nos bois. Ala bois pra cá, bois pra lá.
Quando vai o que tinha prometido os bois, ‘tava c’os bois pra matá, qu’era aqueles grandes bois. O outro já tinha os seus bois pa d’irem pa embarcá já. Quando eles vão pa d’i pa bordo c’os bois, o barco vira. Os bois começaram a... E era aqueles que ‘tavam prometidos, qu’ele tinha trocado. Começam a estramalhar no barco, rombam o barco, e o barco vai pra baixo. Os que d’iam no barco, eles puderam cortar as cordas, e ainda cortaram. Mas era já muita maresia. O boi... E foi só aquela junta. Os outros vinheram ter cá ao cais das Poças, qu’era ali perto dund’ele tinha virado.
E aquela junta foi um grande arrodeio. E foi pá banda do porto. E aquela gente... Pois ‘tava a chovê muito, e era muito mà tempo. E era aqueles bois por aquela... Qu’iss’era na sexta-feira, quando eles deram pa matar o gado. E era aqueles bois por lá fora, na carreira. Ninguém sabia aqueles bois que bois eram. E tudo o quanto podiam pela banda do porto fora. Chegam à Ribeira do Barqueiro, ond’eles ‘tavam c’os outros bois pra matar. E aqueles bois, uma pancada no portão, e entram par dentro.
Ah, rapaz, quando o... Qu’era o própio dono que os tinha trocado. E vê os bois. Qu’era aqueles bois. E eles é que foram mortos e ele deu os outros ao própio dono. Deu, mas o outro deu muito dinheiro. Já aquela carne foi muito barata.
‘Tavam prometidos era áquilo.
- Source
- FONTES, Manuel da Costa Portuguese Folktales in North America: New England , sem editora, s/d , p.#30
- Year
- 1978
- Place of collection
- Santa Cruz Das Flores, SANTA CRUZ DAS FLORES, ILHA DAS FLORES (AÇORES)
- Informant
- Guilherme Alexandre da Silveira (M),