APL 624 O sobreiro que dá amoras
No alto do monte Mózinho (Penafiel), donde se avista um panorama deslumbrante, ergue-se, humilde, a ermida de S. Pedro dos pegureiros.
À direita, ostenta-se um sobreiro, respeitável pela idade, e cujas pernadas carcomidas esbracejam livremente.
Ora, no dia da festa de S. Pedro, enquanto os romeiros assistem à missa cantada, os ramos cobrem-se de amoras formosíssimas. Mas, até hoje, nenhum devoto conseguiu prová-las, pois o prodígio dura apenas o pequeno espaço de tempo que decorre entre o elevar da hóstia e o erguer do cálice.
Uma vez, quando se festejava S. Pedro, dois namorados cantavam ao desafio e da boca do rapaz saiu esta cantiga:
Se eu rio, logo tu ris,
Se eu choro, logo tu choras;
Pois só casarei contigo
Se o sobreiro der amoras...
E o sobreiro cobriu-se então de amoras, que só amadurecem no dia da festa e no momento em que toca a Santos na missa.
É curiosíssima a coincidência de existir uma cantiga dirigida à Senhora das Amoras [existe o lugar da Senhora das Amoras em Raiva, Castelo de Paiva].
Junto da capela de Santo António, em São Vicente do Pinheiro (Penafiel), havia outro sobreiro majestoso, abatido há muito, à volta do qual girava lenda semelhante.
- Source
- LIMA, Augusto César Pires de Estudos Etnográficos, Filológicos e Históricos , Junta da Província do Douro Litoral, 1948 , p.244-245
- Place of collection
- PENAFIEL, PORTO